Título: Silvio Santos vende PanAmericano
Autor: D"Ercole, Ronaldo; Costa, Donizeti
Fonte: O Globo, 01/02/2011, Economia, p. 19

BTG Pactual desembolsa R$450 milhões e assume banco. Empresário nega dívida de R$4 bi

Depois de intensas negociações, que atravessaram o fim de semana, o empresário e apresentador Silvio Santos concordou ontem em vender o controle do seu banco, o PanAmericano, para o BTG Pactual, do banqueiro André Esteves. O contrato de venda foi assinado à noite na sede do BTG pelo próprio apresentador, que vinha acompanhando as negociações a distância, sendo informado por seus advogados. O encontro foi tenso, e ele teria chegado a desistir do negócio. Mas foi convencido a aceitar os termos do acordo.

O BTG Pactual vai desembolsar R$450 milhões pela fatia de 37,64% do capital total do banco que pertencia a Silvio Santos e lhe davam o controle da instituição. O apresentador vendeu seu banco, mas não teria se livrado das dívidas relativas ao rombo contábil, estimado em R$4 bilhões, descoberto no balanço. Mas o empresário, porém, nega o débito. O Fundo Garantidor de Crédito (FGC, entidade privada mantida pelos bancos para cobrir perdas de correntistas em caso de quebra de instituições financeiras), por sua vez, que emprestou recursos para cobrir o desfalque, não se pronunciou ontem sobre o assunto.

Pelo acordo, o BTG Pactual paga R$450 milhões à Silvio Santos Participações e passa a controlar o PanAmericano em sociedade com a Caixa Econômica Federal, que adquiriu 36,56% do capital deste em dezembro de 2009 e cuja fatia não muda.

O PanAmericano muda de mãos sem dívidas, assegurou ontem um executivo envolvido nas negociações:

- O PanAmericano está saneado.

Segundo ele, o FGC teria concordado em cobrir o novo rombo encontrado semana passada, da ordem de R$1,5 bilhão. Assim, o aporte total de recursos do FGC no PanAmericano chegaria a R$4 bilhões - o fundo já havia liberado R$2,5 bilhões em novembro de 2010 para cobrir um buraco encontrado pelo Banco Central (BC).

"Não sou um homem de dinheiro", diz Silvio

Para conseguir o empréstimo, Silvio Santos se empenhou pessoalmente nas negociações com o FGC, concordando em dar como garantia as empresas de seu grupo - a rede de Lojas do Baú, a fábrica de cosméticos Jequiti, o SBT e o próprio banco. Paralelamente, ele demitiu a diretoria do PanAmericano, inclusive Rafael Palladino, sobrinho de sua mulher, Iris. Palladino era o superintendente e, junto com os outros ex-executivos, está sendo investigado pela Polícia Federal por suspeita de gestão fraudulenta.

A descoberta do novo rombo de R$1,5 bilhão nas contas do banco, semana passada, foi a gota d"água para que o BC exigisse a saída imediata de Silvio Santos do comando do banco, fato que acelerou a venda. Segundo fontes do governo, a Caixa não entrou na negociação.

Ao deixar ontem à noite o prédio do BTG, Silvio Santos não deu maiores detalhes da operação. Bem-humorado, chegou a fazer piadas.

- Operação, operação plástica? - brincou ele, ao ser perguntado sobre o termos da operação de venda.

Segundo o empresário, ele não teve "nem lucro nem prejuízo" e negou que continue responsável pelo rombo de R$4 bilhões.

- Sempre tenho dívidas, sou empresário. Mas aquelas garantias (dadas para liberar o primeiro empréstimo de R$2,5 bilhões do FGC) não tenho mais. Estou livre. A televisão, que alguém queria comprar, não está mais à venda. A Jequiti não está mais à venda. As lojas do crediário do Baú não estão mais à venda. A única coisa que foi vendida foi o banco - afirmou.

Sobre o difícil acordo, disse que não é "um homem de dinheiro":

- As bases das negociações foram tratadas com meus advogados. Sou um homem de televisão, não sou um homem de dinheiro. Não sei qual é o valor (fechado para a compra). Eles (o BTG) puseram tanto papel na minha frente que eu não assinei. Quem assinou foi minha filha, Renata, e meu sobrinho, Guilherme (Stoliar).

Ele afirmou que nenhum correntista ou acionista do banco perdeu.

- Quem me comprou o banco são pessoas com experiência, que podem fazer o banco crescer. Fico contente porque não dei prejuízo a ninguém.

Para o BTG Pactual, o PanAmericano será uma nova plataforma de negócios, independente do banco de investimentos, marcando sua entrada no varejo bancário. A presidência-executiva do banco ficará com José Luiz Acar Pedro, ex-executivo do Bradesco e hoje um dos sócios do BTG Pactual.

Um acordo de cooperação já foi assinado entre BTG e Caixa para o fornecimento de linhas de crédito ao PanAmericano. O BTG Pactual também fará uma oferta pública aos acionistas minoritários do PanAmericano, que detêm 25,8% das ações e terão direito de vendê-las pelo mesmo preço recebido por Silvio Santos na venda dos seus papéis: R$4,89 por ação. As ações preferenciais do banco caíram 3% ontem na Bolsa de São Paulo.