Título: Saques de valor incalculável
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 01/02/2011, O Mundo, p. 24

Invasões a museus crescem, apesar da segurança

CAIRO. Os prejuízos no acervo milenar dos museus e depósitos do Egito não param de aumentar em decorrência dos distúrbios que sacodem o país há uma semana. Colocada no olho do furacão, a herança cultural vem sendo cada dia mais ameaçada. Enquanto a polícia antidistúrbio tenta conter as manifestações nas ruas das principais cidades, saqueadores vêm driblando a segurança para atacar museus e depósitos de antiguidades onde se encontram as maiores coleções mundiais de tesouros faraônicos, entre elas, a célebre máscara mortuária do faraó Tutancâmon. Ontem, foi a vez do Museu Qantara, perto de Ismailia, cidade à beira do canal de Suez. O prédio abriga três mil objetos dos períodos romano e bizantino.

Apesar de jovens egípcios terem se juntado para proteger as valiosas antiguidades, não houve jeito. Saqueadores em busca de ouro conseguiram furar o bloqueio, entraram nos edifícios, vandalizaram as instalações, roubaram peças faraônicas e destruíram uma importante parte do acervo egípcio.

No caso do Museu Qantara, um funcionário informou que saqueadores quebraram alguns itens e roubaram outros. Muitas das peças haviam sido encontradas na península do Sinai por israelenses, depois da ocupação da região por Israel, na guerra de 1967, e só recentemente haviam sido devolvidas ao Egito.

Nos últimos dois dias, cerca de 50 pessoas foram presas quando tentavam entrar no Museu Nacional do Egito, próximo à região onde ocorrem os principais protestos no centro do Cairo. O edifício de dois andares ¿ construído em 1902 ¿ abriga dezenas de milhares de objetos, incluindo a maior parte da coleção relacionada a Tutancâmon. Qualquer peça em exposição tem valor incalculável e seu significado histórico é essencial.

O temor de que o caos coloque em risco as riquezas arqueológicas nacionais aumentou na sexta-feira, quando saqueadores entraram no museu e destruíram duas múmias de faraós e dezenas de outros objetos. Por sorte, segundo o presidente do Conselho de Antiguidades do Egito Zahi Hawass, nenhuma peça do acervo de Tutancâmon foi vandalizada, pois os invasores confundiram os tesouros com a loja de souvenirs do museu.

¿ Graças a Deus eles acharam que a loja do museu era o museu ¿ disse, aliviado, acrescentando, ainda, que todas as peças do acervo alcançariam um preço exorbitante no mercado de antiguidades.

Há denúncias de que outros depósitos próximos das pirâmides de Saqqara e Abu Sir tenham sido saqueados. Além disso, relatos dão conta de que tanto o Museu Copta quanto o Palácio Manial também foram invadidos.

¿Meu coração está partido e meu sangue, fervendo¿, resumiu Hawass em seu site.