Título: Caçada a jornalistas até dentro de hotéis
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 01/02/2011, O Mundo, p. 24
CAIRO. Não bastasse mais um dia com a internet bloqueada e a violência da polícia, o trabalho da imprensa na cobertura dos distúrbios no Egito tornou-se mais complicado ontem depois de soldados invadirem um dos hotéis no centro do Cairo para prender seis integrantes de uma equipe do serviço em inglês da rede de TV al-Jazeera. O grupo foi escoltado para o lado de fora do Ramsés Hilton, onde teve passaportes e telefones celulares confiscados, além de equipamentos. Horas depois, foi liberado.
Segundo o militar que comandou a operação, que incluiu revista nos quartos, o grupo foi detido por ter se recusado a obedecer ordens para não filmar os tanques do Exército que formavam barreiras nas vias de acesso à Corniche, a avenida à beira do Rio Nilo onde estão localizados alguns dos principais hotéis da capital. A detenção, no entanto, se juntou à interrupção do sinal da al-Jazeera em todo o território egípcio.
Nos últimos dias, porém, representantes de organizações estrangeiras têm relatado episódios de intimidação e mesmo de danos a equipamentos por parte da polícia e de milícias a serviço do governo ¿ conhecidas como baltageya (vândalos, em árabe). Houve até a prisão do correspondente do jornal britânico ¿Guardian¿ no Cairo, Jack Shenker, que também foi agredido por policiais à paisana durante uma passeata na última quarta-feira.
Mesmo blogueiros não escaparam de retaliações. Chris Gehon, um professor americano que ganhou certa notoriedade com informações sobre os distúrbios veiculadas via Twitter e Facebook, foi alvejado com uma bala de borracha na porta de seu hotel.
Outro problema é o uso da mídia egípcia pelo regime de Hosni Mubarak para uma guerra de contrainformações: as TVs locais, por exemplo, veiculam informações veementemente em apoio ao governo, incluindo notícias sobre supostas fugas de presidiários que, na verdade, teriam sido arquitetadas pelas forças de segurança, numa tática semelhante à utilizada por Saddam Hussein no Iraque antes da invasão de 2003. (F.D)