Título: Não temos lições de transparências a receber
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 03/02/2011, O País, p. 3
Dois anos após atos secretos, Sarney diz que trabalhos sempre foram "públicos"
BRASÍLIA. Ignorando o escândalo que atingiu o Senado há dois anos, inclusive em sua gestão, quando se descobriu que a Casa havia editado mais de mil atos administrativos secretos para acobertar nomeações de parentes de parlamentares e funcionários da instituição, o presidente José Sarney (PMDB-AP) disse que o Congresso Nacional não precisa de lições de transparência. No discurso de abertura da sessão legislativa, Sarney também elogiou o gesto da presidente Dilma Rousseff de entregar pessoalmente sua mensagem ao Legislativo.
Considerado um dos principais aliados do governo no Parlamento, Sarney repetiu o discurso contra o excesso de medidas provisórias editadas pelo Executivo, o que, na sua avaliação, representa uma "armadilha" que pertuba o funcionamento das instituições.
- Volto a repetir aqui que o nosso trabalho exige a sedimentação de uma profunda consciência moral de nossas responsabilidades e a obstinada decisão que devemos ter cada um de não cometer erros, de jamais aceitar qualquer arranhão nos procedimentos éticos que vêm nortear a nossa conduta. Enquanto nos outros Poderes as decisões são objeto de uma transparência relativa, nossos trabalhos sempre se realizam em público, à luz do exame e do escrutínio do eleitor. Não temos lições de transparências a receber, mas podemos e devemos agir para que desapareçam quaisquer sombras que porventura levem a desconfianças com o Parlamento - disparou Sarney.
Num discurso em defesa da autonomia do Legislativo, Sarney cobrou uma solução definitiva para o problema das medidas provisórias:
- Seu rito de tramitação transformou-se numa armadilha que perturba o funcionamento das instituições, sobretudo das nossas Casas Legislativas.