Título: Lula impedirá alta dos juros
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 24/07/2009, Economia, p. 10

O presidente Lula vem dizendo em alto e bom som a seus assessores que não permitirá o aumento da taxa básica de juros (Selic) em 2010, como prevê boa parte dos analistas. ¿Não há a menor hipótese disso acontecer¿, tem frisado Lula, indicando que está disposto a mexer em um vespeiro ¿ a autonomia do Banco Central ¿ em prol da candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Para o presidente, é fundamental que a economia esteja funcionando a pleno vapor ao longo do próximo ano, ampliando a oferta de emprego e a renda, que costuma render muitos votos. Segundo assessores próximos de Lula, juros em alta dariam um tranco desnecessário no crescimento. E o país, na sua opinião, já pagou caro pela crise mundial

Os mesmos assessores asseguram que Lula ouviu garantias firmes do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, de que não haverá necessidade de se aumentar a Selic no meio das eleições, pois os riscos inflacionários que o mercado prevê não se confirmarão. Pelos modelos do BC, a inflação ficará na casa dos 4% até a primeira metade de 2011, mesmo que a economia volte a crescer em um ritmo superior a 4%. É bom ressaltar, no entanto, que Meirelles vai se filiar a um partido político em setembro e deixará o cargo até março de 2010 para concorrer, muito provavelmente, ao governo de Goiás. Portanto, para que não haja mudanças nos juros, mesmo que a inflação se assanhe, o futuro comandante do BC terá de seguir à risca a determinação de Lula, abrindo mão da autonomia que tanta credibilidade deu à política monetária do país.

¿A dúvida de quem será o sucessor de Meirelles e de como ficará o quadro de diretores é um dos motivos que levaram o mercado a aumentar as taxas futuras de juros. É o tal prêmio de risco¿, afirmou o economista Tomás Goulart, do Banco Modal. Ao mesmo tempo em que garante que não permitirá o aumento dos juros em 2010, Lula se divertiu com a informação de que o mercado financeiro está ¿precificando¿ o risco Serra. Conforme mostrou ontem o Correio, os investidores temem a política econômica que seria implantada pelo governador de São Paulo, José Serra (PSDB), caso ele se eleja. Serra já se declarou contra a autonomia do BC. Disse que os juros, que estão em 8,75% ao ano, têm de ser mais baixos. E defendeu a valorização do dólar frente ao real.