Título: FH defende chacoalhada no PSDB
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 04/02/2011, O País, p. 4

Estrela do programa do partido, ex-presidente se diz decepcionado com Lula

SÃO PAULO. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se tornou a estrela do programa do PSDB, que foi ao ar ontem na TV, e pediu uma "chacoalhada" em seu próprio partido que, segundo ele, precisa se aproximar do povo e ter menos "pompa". Em uma espécie de bate-papo com uma plateia de jovens, Fernando Henrique fez uma revisão dos principais temas da campanha presidencial e, numa espécie de desabafo, se disse pessoalmente decepcionado com Lula, devido à "complacência com a corrupção" e às "alianças com setores muito atrasados".

Em dez minutos, o programa partidário tentou colar a imagem de renovação e competência à sigla, lembrando a vitória em oito estados (SP, MG, PR, TO, GO, AL, PA, RR).

Os governadores eleitos apareceram com destaque e José Serra, presidenciável derrotado, surgiu nas imagens referentes a São Paulo, ao lado do governador Geraldo Alckmin. O senador Aécio Neves, por sua vez, surge nas cenas sobre Minas, ao lado do governador Antonio Anastasia. Perto do fim do programa, o presidente da sigla, o deputado Sérgio Guerra, defendeu o desempenho eleitoral de Serra, que perde espaço no partido.

- É preciso dar uma chacoalhada nos partidos, começando pelo meu, pelo PSDB. Nós precisamos estar mais próximos das pessoas, do povo, com menos pompa, com coisas mais diretas - disse FH, que defendeu a maior participação de mulheres, para que "o PSDB deixe de ser um partido só de homens".

Perguntado por um dos jovens sobre suas "decepções" com a era Lula, o ex-presidente tucano fez um desabafo:

- Conheci o Lula no ABC, em São Bernardo, o Lula inovador. Acho que ele foi conservador. Ele aceitou muitas coisas que não eram boas de aceitar, alianças. Todo mundo faz alianças, eu também fiz, mas ele ficou até o fim, até promoveu mais alianças com setores muito atrasados do Brasil. E permitiu que houvesse uma certa complacência com a corrupção. Esse lado me decepcionou, talvez mais com a pessoa do que com o presidente.

Serra, que não ganhou destaque no programa, teve direito a uma defesa pública, feita por Sérgio Guerra.

- Com a liderança de Serra, tivemos 44 milhões de votos. É parte expressiva da população que não concorda em continuar tudo do jeito que está. Lutamos contra um adversário que abusou do poder econômico e zombou da Justiça Eleitoral - disse Guerra. - Não queremos dividir o Brasil, queremos um país melhor de verdade.