Título: Alimentos têm maior alta desde 1990
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Fonte: O Globo, 04/02/2011, Economia, p. 26

Índice da ONU mostra aumento de 3,4% em janeiro sobre dezembro

MILÃO e LONDRES. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) anunciou ontem que os preços dos alimentos em todo o mundo foram recorde em janeiro. Com 231 pontos, o índice subiu 3,4% em relação a dezembro, a sétima alta seguida e registrando o maior patamar desde o início da série histórica, em 1990. Segundo a FAO, todas as commodities alimentares registraram aumentos significativos no mês passado, exceto a carne.

- Os números mostram claramente que a pressão sobre os preços não diminui. A alta provavelmente vai persistir nos próximos meses - disse o economista da FAO Abdolreza Abbassian.

A agência da ONU também alerta que os problemas serão ainda mais penosos para os países com dificuldades para obter financiamento para suas importações, assim como para as famílias pobres que gastam a maior parte de sua renda com comida.

Crise política nos países árabes contribui para alta

A instabilidade dos últimos dias nos países árabes está contribuindo também para o encarecimento dos preços. A preocupação com o tema é crescente: os líderes mundias reunidos em Davos, no fim do mês passado, advertiram que, se continuar assim, a situação poderá desencadear novos conflitos e até guerras.

Já para a revista britânica "The Economist", a inflação está subindo, mas não está alta. E, baseada nesta constatação, a publicação afirma que o temor de suas consequências é superestimado.

"Em nenhum país, rico ou emergente, (a inflação) atingiu o pico de 2008 (nos EUA está em apenas 1,5%)."

Ainda de acordo com a revista, dificilmente as pressões inflacionárias continuarão a longo prazo nos países ricos, porque não há espaço para reajustes salariais.

"Nas economias emergentes, a história é outra. Mas mesmo assim as reações podem ser exageradas", afirma.

Para a revista, os bancos centrais devem ignorar os choques temporários, como os problemas na colheita russa de grãos, já que seu trabalho é conter pressões contínuas sobre os preços.

Sobre o Brasil, a "Economist" defende que um controle maior do Orçamento bastaria para segurar a inflação: "Na Índia e no Brasil, a principal ferramenta contra inflação deve ser um déficit orçamentário menor".