Título: Três filhos assassinados em três anos
Autor: Remígio, Marcelo
Fonte: O Globo, 07/02/2011, O País, p. 3

TERESINA e FORTALEZA. A dona de casa Francisca Maria Almeida da Silva, de 44 anos, sentiu todas as dores do mundo ao testemunhar, num intervalo de apenas três anos, o assassinato de seus três filhos: o estudante Felipe, de 19 anos, o ajudante de pedreiro Marcelo, de 26, e Givago Pereira, o Pachola, de 22. Quinta-feira passada, Francisca foi à missa de um mês da morte de seu filho, Givago, assassinado com oito tiros, em Teresina.

¿ Nós estávamos tomando sorvete. Baixei a cabeça para pegar uma sacola de compras e vi os pés de um homem, não o rosto. Eu disse: ¿Givago, meu filho, tem um homem com uma arma.¿ Ele soltou os chinelos e saiu correndo. Eu gritei, pedi ajuda, mas ninguém teve coragem de ajudar meu filho. Com o primeiro tiro, ele caiu.

Givago morreu um ano e quatro meses após o assassinato, a tiros, de Marcelo. Segundo Francisca, a família morava no bairro Redonda, na periferia de Teresina, e Givago passou a consumir drogas aos 13 anos. Seu pai, Francisco das Chagas Pereira, foi pedir ao traficante que não vendesse mais entorpecentes ao filho. O criminoso disparou cinco tiros em Francisco, atingindo ombro e cabeça. Givago matou o traficante para vingar a tentativa de homicídio contra o pai. A partir daí, começou a perseguição à sua família.

A dor pela perda de um filho assassinado transformou também a vida de Fátima Lima, moradora de Fortaleza. Há oito anos, seu filho Cícero, de 23 anos, morreu vítima de arma de fogo. O assassino, preso em flagrante, foi solto 12 dias depois:

¿ Não estou enfraquecida porque tenho a Deus. Mas estou nadando na impunidade.

Até hoje não se sabe exatamente por que Cícero foi assassinado. O acusado, Igor Benevides, nunca mais foi preso. No Ceará, em 2010, foram assassinadas 970 pessoas de 12 a 24 anos, a faixa etária que mais concentra vítimas da violência. Houve 818 mortes em 2009 e 722 em 2008, segundo dados oficiais.

O secretário de Segurança, Francisco Bezerra, diz que cerca de 70% dos homicídios em Fortaleza e região metropolitana estão relacionados ao tráfico de drogas. A grande maioria tem características de execução e é cometida por criminosos usando motos. No cargo há um mês, Bezerra aposta num novo modelo operacional para reduzir a criminalidade. Ele aumentou em 50% o efetivo do Raio, grupamento que atua especificamente na abordagem de motocicletas; reativou o serviço de inteligência da PM e redimensionou a ação policial em 21 bairros de Fortaleza que concentram 60% dos homicídios.