Título: Um enredo de paz no berço do carnaval carioca
Autor: Daflon, Rogério ; Dutra, Fernanda
Fonte: O Globo, 07/02/2011, Rio, p. 13

¿Se alguém quer matar-me de amor, que me mate no Estácio...¿. Mais do que livrar a região do tráfico armado, a ocupação de ontem veio para resgatar a essência de um bairro repleto de história e referências, como a composição acima de Luiz Melodia. Afinal, foi ali, com Ismael Silva e a Turma do Estácio (Bide, Marçal, Bucy Moreira, Baiaco, Brancura e Mano Edgar), que nasceu oficialmente a primeira escola de samba brasileira: a ¿Deixa falar¿, em 1928.

Relacionados à cultura negra, os blocos de carnaval eram considerados caso de polícia. Ismael Silva, para burlar a atenção das autoridades e conquistar o direito de continuar desfilando pelo bairro, passou a chamar os blocos de escolas ¿ em uma alusão às instituições de ensino normal, que formavam professoras. Segundo Hiram Araújo, diretor cultural da Liga Independente das Escolas de Samba e autor do livro ¿Memória do carnaval¿, a ideia surgiu enquanto o sambista bebia com amigos nos botequins ¿Apolo¿ e ¿Compadre¿, na subida do Morro São Carlos, em frente à Escola Normal.

¿ Um dia ele viu as professoras saírem do colégio e pensou: ¿nós também podemos ensinar, somos escolas de samba¿.

Tempos mais tarde, a região deu origem a outras três agremiações ¿Paraíso das morenas¿, ¿Vê se pode¿ e ¿Para o ano sai melhor¿, que se uniram em 1955 na Unidos de São Carlos, hoje chamada Estácio de Sá.

¿ Por esses motivos que o Estácio é considerado, e realmente é, o berço das escolas de samba. Foi onde tudo começou ¿ explica o autor.

As ocupações de favelas do Estácio, Catumbi e Santa Teresa trazem, agora, a expectativa de que esse passado seja reacendido, pois, como lembrou o próprio Hiram Araújo, o bairro é onde fica o sambódromo ¿ símbolo físico do desenrolar de toda essa memória.