Título: Segurança para voltar a investir no próprio bairro
Autor: Daflon, Rogério ; Dutra, Fernanda
Fonte: O Globo, 07/02/2011, Rio, p. 13

A área de lazer de um edifício próximo ao Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, na qual há uma piscina semiolímpica (25 metros de comprimento e de quatro metros de profundidade), reflete o abandono do bairro. Com a perspectiva de mais segurança, com a implantação das UPPs, a síndica Mônica Cleophas, como tantos outros moradores da região, já planeja revitalizar a área. Amanhã, uma reunião de líderes comunitários com o secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Rodrigo Neves, vai discutir as ações do programa UPP Cidadã.

¿ A piscina foi desativada em 1998. Com os tiroteios, nenhum morador se animava com o conserto dela. Hoje, tenho certeza que os banhos de piscina vão voltar ¿ disse ela, mostrando também uma sauna e uma churrasqueira do prédio, construído em 1937, que há algum tempo estavam sem serem utilizadas.

Moradores do Morro dos Prazeres querem melhorias

O prédio fica na esquina da Rua Gomes Lopes, o principal acesso ao Morro dos Prazeres, com a Rua Almirante Alexandrino. Mônica Cleophas afirmou que um dos apartamentos ali foi vendido há dias por R$200 mil reais.

¿ Um francês veio aqui para comprar e lamentou o fato do imóvel ter sido vendido, já que ele previa uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) ali ¿ relatou Mônica.

Também no Morro dos Prazeres, alguns moradores já pensavam no futuro. Um deles, que pediu para não ser identificado, pediu obras de saneamento básico.

¿ O nosso maior problema é o esgoto a céu aberto. Isso precisa ser visto com urgência.

Opinião semelhante tem o agente de turismo Jorge Pereira, de 55 anos:

¿ Acho que a ocupação vai melhorar muito as coisas aqui. Mas será bom se outros serviços também vierem, como saneamento básico para essas comunidades.

Para o filósofo Charles Siqueira, da ONG Pólen, a prioridade, porém, é outra, e não menos urgente:

¿ No Morro dos Prazeres, há pelo menos 50 jovens, a maioria menor de idade, que orbitavam em torno do tráfico, mas não podem ser chamados de criminosos. Eles tinham os traficantes como seus ídolos, e o poder público tem que ajudar no sentido de dar outras referências para esses garotos. Esse trabalho teria de ser começado já ¿ cobrou Charles Siqueira.

Segundo ele, a maioria dos jovens frequenta a escola pública, mas não estão se dedicando aos estudos:

¿ A vida deles vai cair num vazio, agora que os traficantes se foram. É fundamental que o tempo deles seja preenchido com algo que lhes dê novas perspectivas.

De olho no futuro, lideranças comunitárias dos nove morros ocupados para a instalação das UPPs se reúnem amanhã com o secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos Rodrigo Neves. Ele adianta que o projeto trará assistência jurídica às famílias, mediação de conflitos, formação técnica-profissional e estratégias de aumento da renda dos moradores do local.

¿ A UPP Cidadã alia políticas sociais e defesa dos direitos humanos, de acordo com as estratégias traçadas pela Secretaria de Segurança. Só com essa aliança será possível garantir definitivamente a pacificação ¿ disse Neves.

O secretário adianta que, a partir da segunda metade de fevereiro, cada comunidade terá um ¿capitão¿ da UPP Cidadã. Os funcionários farão a interlocução entre o governo estadual e as comunidades a respeito dos programas sociais já implantados.

¿ Teremos gestores dos programas sociais ¿ explicou Neves.

Prefeitura vai melhorar a conservação na área

Enquanto o estado planeja suas ações, desde janeiro a prefeitura já atua com o programa da prefeitura UPP Social Carioca, que tem foco serviços urbanos (limpeza, iluminação) e educação infantil (creches).

O Instituto Pereira Passos, responsável pelo projeto UPP Social Carioca, informou que estão previstas ações na área de conservação, iluminação pública e coleta de lixo dos nove morros ocupados ontem.