Título: Entre assessores de Dilma, clima de apreensão
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 06/02/2011, O País, p. 3

Planalto teme saia justa na festa de aniversário do PT, em que Lula será a grande estrela

BRASÍLIA. Apesar dos esforços para evitar atritos, no Palácio do Planalto há um clima de apreensão com a reestreia política do ex-presidente Lula, que deve acontecer dia 10, em Brasília, em evento para comemorar os 31 anos do PT. No núcleo do governo, ninguém aposta num discurso crítico. Mas o temor é que possa ocorrer alguma saia justa. A presidente Dilma Rousseff não irá.

Até agora, Lula tinha decretado uma espécie de "silêncio obsequioso", segundo amigos. No Planalto, a expectativa é que, após esse encontro partidário, onde será reempossado como presidente de honra do PT, Lula volte a ficar em silêncio por um longo tempo em questões de governo.

- Lula vai falar o que ele quiser. Mas não é nenhum menino e não vai falar nada que seja um problema para o governo - disse o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

Mas já há um forte clima de intriga entre petistas e até assessores. As "viúvas de Lula", como são chamados os ministros, assessores e petistas mais próximos do ex-presidente, não escondem o desconforto com a postura de Dilma de tentar se diferenciar de seu criador.

- A relação entre os dois está muito boa. O que pode existir é intriga de assessores. Isso sempre existe no poder - disse o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

Um interlocutor que esteve com Lula percebeu a contrariedade dele com o fato de, na imprensa, ser comparado a Dilma de forma negativa. Dilma já se encontrou com Lula duas vezes após a posse e deve manter esse contato para evitar atritos e o clima de intriga entre os dois grupos. De forma reservada, assessores próximos de Dilma estão preocupados com uma volte precoce do ex-presidente à cena política. Acostumado aos holofotes, Lula reassumirá um protagonismo não só no PT, mas no governo.

- Lula pode falar como um observador da cena política. Mas ele é maduro suficiente para não criar constrangimento. Ele vai criar um protagonismo via partido. E não via governo. Ele pode sentir falta do poder. Mas a relação dos dois é de lealdade. Esse modelito de rompimento entre criatura e criador não vai acontecer - disse o governador Jaques Wagner (PT-BA). (Gerson Camarotti)