Título: Falta de pessoal é uma ameaça
Autor: Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 24/07/2009, Cidades, p. 24

Poucas contratações foram feitas para o início da operação do Cacon. Universidade de Brasília ainda espera por concurso público

Equipamentos de braquiterapia são os mais modernos que existem para tratamento de tumores, como o de colo do útero e do endométrio Fachada do Centro de Alta Complexidade em Oncologia do HUB: estrutura foi erguida em cinco anos e custou mais de R$ 5 milhões

A estrutura é nova, os equipamentos ainda nem foram inaugurados, mas velhos problemas ameaçam o funcionamento do Centro de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon). Nem bem a unidade abriu as portas e a reitoria da Universidade de Brasília já prevê dificuldades com a falta de pessoal. Para o lançamento da unidade, foram feitas poucas contratações. Cinco novos funcionários foram convocados para atuar na área de radioterapia ¿ serviço que não existia no HUB. Os outros profissionais, como oncologistas, enfermeiros e técnicos em enfermagem, já faziam parte do quadro do hospital e atuavam no setor de oncologia clínica. Foram apenas deslocados para o novo prédio.

O vice-reitor da UnB, João Batista de Sousa, diz que a expectativa da universidade é que o Ministério da Educação libere em breve a realização de concurso para a contratação de pessoal para os hospitais universitários. ¿Oncologistas, físicos médicos e radioterapeutas são profissionais muito bem pagos na iniciativa privada. Temos feito alertas ao MEC e ao Ministério da Saúde sobre a importância de melhorar essas carreiras¿, destaca João Batista. ¿Existe uma preocupação grande com relação à manutenção dessas equipes a longo prazo¿, acrescenta.

Outra preocupação é a pressão dos pacientes do Entorno. ¿Sabemos que existe uma tendência de que a fila de espera seja saturada por esses pacientes. Mas nosso esforço será para atender a essa demanda com qualidade¿, destaca o diretor do HUB, Gustavo Romero. Ele acredita que o número de consultas oncológicas saltará de 300 para 400 por mês. Já as sessões de quimioterapia devem aumentar de 500 mensais para 550.

Melhoria Os pacientes do Cacon podem procurar diretamente a unidade para marcar uma consulta. A Secretaria de Saúde também deve encaminhar pessoas para o novo serviço. A médica Cristina Scandiuzzi, da Gerência de Câncer da secretaria, diz que a inauguração do Cacon vai representar uma melhoria no atendimento da rede pública. ¿Além dos novos equipamentos do HUB, Brasília ainda tem demanda para um terceiro Cacon. Nossa intenção é fazer um centro no Hospital Regional de Taguatinga e ampliar os serviços do Hospital de Base¿, diz.

A melhoria no sistema de atendimento aos pacientes com câncer é urgente na capital federal. Em abril deste ano, o Correio publicou um levantamento que mostra um aumento de 211% no número de consultas oncológicas realizadas pela rede pública desde o início desta década. Já a quantidade de consultas em radioterapia caiu 52% no mesmo período.

O mastologista José Antônio Ribeiro Filho ¿ um dos mais atuantes na luta para colocar os equipamentos do Cacon em funcionamento ¿ lamenta o longo tempo que os aparelhos ficaram encaixotados. Ele diz que já visitou o centro do HUB depois da abertura e critica o que classifica como descaso das autoridades. ¿O funcionamento ainda está precário. Falta comprar as cadeiras da quimioterapia, por exemplo. Não entendo por que não fizeram isso antes. Tiveram cinco anos para resolver essas questões¿, diz o médico. ¿Brasília tem uma enorme necessidade dos serviços de radioterapia. Basta ver que a ministra Dilma Rousseff e o vice-presidente José Alencar precisam buscar tratamento em São Paulo¿, ressalta.

Burocracia e descaso

Cinco anos se passaram entre a chegada dos equipamentos de radioterapia ao Hospital Universitário de Brasília e a montagem dos aparelhos no Cacon da UnB. Neste período, uma sucessão de problemas burocráticos e de descaso com o dinheiro público prolongou o tempo da obra e, principalmente, o sofrimento dos pacientes com câncer da capital federal. Nos últimos três anos, o Correio acompanhou o caso.

O Centro de Alta Complexidade em Oncologia faz parte de um programa do Ministério da Saúde chamado Projeto Expande. Criada para aumentar a rede de tratamento contra o câncer em todo o Brasil, a iniciativa prevê a oferta de um sistema completo de atendimento aos pacientes, com consultórios, quimioterapia e, principalmente, equipamentos de radioterapia.

Em dezembro de 2003, a UnB assinou um convênio com a Secretaria de Saúde do DF e com o Ministério da Saúde para a implantação de um Cacon no câmpus. A universidade ficaria responsável pela obra e o governo federal compraria os aparelhos. Em agosto de 2004, começou a construção do prédio do Cacon, que fica ao lado do HUB, na Asa Norte. Mas a empresa vencedora da licitação, a Cinzel Engenharia S.A., pediu a rescisão do contrato em maio de 2005. A empreiteira argumentou que seriam necessários mais recursos para erguer a estrutura. A UnB se recusou a aditar o contrato.

Administração direta A universidade resolveu continuar as obras por administração direta. Em janeiro de 2006, porém, veio uma ordem do governo federal para que fosse realizada nova licitação. A esse impasse se somou outro problema: a Secretaria de Fiscalização do GDF embargou a construção por considerar que o prédio invadia uma área pública.

Em meio às sucessivas paralisações da construção, os equipamentos de radioterapia continuavam a chegar à UnB. A primeira peça foi enviada em agosto de 2004. A universidade recebeu o restante dos aparelhos até 2006. Como não havia onde instalá-los, ficaram todos encaixotados em uma sala refrigerada, construída especialmente para abrigar os equipamentos.

Em novembro de 2007, o Tribunal de Contas da União determinou que os aparelhos de radioterapia fossem transferidos para algum hospital da rede pública até que o prédio do Cacon ficasse pronto. A Secretaria de Saúde anunciou que poderia receber as máquinas e que tinha condições de construir um local adequado para a operação dos aparelhos. Mas os equipamentos seguiram encaixotados. No mesmo ano, a Multicon Engenharia venceu a licitação para retomar as obras. A construção ficou pronta no início de 2009 e será inaugurada em 17 de agosto.