Título: Itaipulândia, filha dos royalties
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 06/02/2011, Economia, p. 35
Criado para receber recursos, município tem analfabetismo zero
ITAIPULÂNDIA (PR). A católica população da região de fronteira do Paraná não teve nenhum remorso em trocar o nome da pequena e desimportante vila de Aparecidinha do Oeste por Itaipulândia, quando a localidade virou um município, em 1992. O motivo era mais que justificado: se não fossem os royalties de Itaipu, a cidade sequer existiria.
- A cidade se emancipou quando viu que poderia receber os royalties. Foi uma briga grande. A cidade de São Miguel do Iguaçu entrou na Justiça para ficar com o valor. Mas ganhamos e hoje teríamos problemas em viver sem os royalties, criamos uma estrutura muito grande com esses recursos - confirma o prefeito Lotário Knob.
Basta caminhar por Itaipulândia para ver a qualidade de vida: é uma cidade de nove mil habitantes sem analfabetos, com 100% dos alunos estudando em período integral, hospital municipal de 30 leitos com qualidade e sem uso de recursos do SUS e ruas limpas, arborizadas e, em muitos locais, com fiação elétrica subterrânea, algo raro até em grandes cidades do país.
Por outro lado, os absurdos aparecem no caminho para a praia criada com dinheiro da prefeitura no lago de Itaipu: uma estrada de quase cinco quilômetros circundada por palmeiras imperiais. Além do inacabado parque aquático - que o prefeito jura que será concluído em breve e que será concedido à iniciativa privada -, muitos reclamam que a praia artificial está abandonada. Assim, a cidade estaria perdendo turistas para os municípios vizinhos, aumentando a dependência dos royalties.