Título: Municípios do Paraná tentam reduzir peso dos royalties na economia local
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 06/02/2011, Economia, p. 36

A RIQUEZA DA ÁGUA

Recursos das hidrelétricas são utilizados para diversificar atividades

PATO BRAGADO, SANTA HELENA e SANTA TEREZINHA DE IGUAÇU (PR). Pato Bragado tinha tudo para ser uma pacata cidade do oeste do Paraná, garantindo boa vida aos seus 4.800 moradores com os recursos dos royalties que recebe de Itaipu. Mas, a cada ano, o peso dos recursos compensatórios da usina cai no orçamento da cidade. Motivo? A cidade tem utilizado os recursos para incrementar a economia local, diversificando suas atividades e reduzindo a "royalty-dependência".

- Hoje, aqui tem emprego para quem quiser trabalhar. Acabaram de inaugurar uma fábrica de macarrão instantâneo, que veio para cá por causa dos benefícios dados pela prefeitura - afirma a estudante de pedagogia Natana de Lima, de 21 anos.

Ela acredita que a cidade consegue ter uma qualidade de vida difícil de ser obtida na região. Além de trazer empresas, a prefeitura local utiliza os royalties para melhorar a capacitação da mão de obra regional:

- Estudo fisioterapia em Toledo e a prefeitura paga um bom percentual da mensalidade, metade do transporte e até dá uma ajuda de custo - afirma Thaís Beurem, de 18 anos, que todo dia percorre 70 quilômetros para chegar a Toledo, onde estuda: - As pessoas percebem isso e a cidade é bem cuidada. Quase todas as árvores têm orquídeas, cuidadas pelos moradores.

Campeã dos royalties doa dinheiro a produtores

Benefícios como esses começam a ficar cada vez mais comuns em cidades da região. Santa Terezinha de Itaipu, com 20 mil habitantes, começa a formar um parque industrial maior que o de muitas cidades médias. Itaipulândia erradicou o analfabetismo e Santa Helena doa recursos aos produtores rurais que pretendam investir. São R$15 mil para quem quer fazer um aviário, o mesmo valor para um chiqueiro e R$5 mil para um estábulo:

- A cidade tem cerca de 3.400 propriedades rurais e podemos dizer que, direta ou indiretamente, todos já foram beneficiados. Se não receberam subsídio, ganham estradas de qualidade. Temos que compensar o fato de um terço da área do município ter sido alagada por Itaipu - disse o vice-prefeito da cidade, Edimar Santin (PTB).

A cidade que mais recebe royalties de hidrelétricas do Brasil administra 12 escolas, 12 ginásios de esporte, nove postos de saúde e um hospital com recursos da usina. Mas houve espaço também para exageros, como a construção da estátua Cristo Esplendor - a maior de bronze da América Latina - monumento de 25 metros erguido na parte mais alta do município.

- Aquilo foi um absurdo, não trouxe turistas. Foi gasto muito dinheiro e nem emprego na cidade gerou. Sei disso porque trabalhei na obra. Só foram três contratados em Santa Helena, todos os demais vieram de Cascavel (que fica a 111 km da cidade) - afirmou o pedreiro Vanderlei de Lima.

Esse monumento - cujo valor investido a prefeitura não divulga - foi erguido entre 1999 e 2003, a fase de ouro desses municípios. Os royalties de Itaipu são calculados em dólar e agora os prefeitos reclamam tanto quanto os exportadores do real valorizado. É da mesma época os maiores absurdos das cidades da região, como o Parque Aquático de Itaipulândia e a plantação de palmeiras imperiais em toda uma estrada da cidade que nasceu por causa dos royalties.

Foz do Iguaçu diz que não recebe compensação justa

Apesar de todos os municípios da região ganharem royalties, falta entrosamento e união entre as prefeituras para utilizar os recursos com planejamento regional. Há alguns que competem entre si no oferecimento de benefícios fiscais e subsídios para o recebimento de indústrias.

- Foz do Iguaçu ficou com todos os problemas sociais da construção de Itaipu e não recebe um valor justo de compensação - disse o prefeito da cidade, Paulo Mac Donald Ghisi (PDT), que afirmou que está fazendo mudanças na cidade, como no sistema de transporte público, que é alvo de reclamações da população.