Título: Pressão nos serviços controlados pelo governo
Autor: Duarte, Patrícia; Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 06/02/2011, Economia, p. 44

Plano de saúde, transporte e remédio devem aumentar até 10% no ano, o dobro da inflação prevista pelo mercado

BRASÍLIA. Muito se fala sobre a alta dos preços dos alimentos e dos serviços, que tem tirado o sono do governo. Mas o brasileiro vai levar outros sustos este ano quando o assunto for o custo de vida. Alguns serviços administrados pelo setor público - como planos de saúde, transporte e remédios - devem ter reajustes substanciais, encostando em 10%, segundo analistas. Esse patamar é bastante elevado se comparado com a expectativa de inflação do mercado, de 5,42% pelo IPCA, e deve comer parte da renda dos consumidores. Pior: segundo avaliação da equipe econômica, cerca da metade da inflação de preços administrados vai ser sentida no primeiro trimestre, quando se concentra boa parte dos reajustes.

- Será pesado - reconheceu uma fonte do governo.

Quando se olha para o indicador global dos preços públicos, as expectativas de alta não ultrapassam 4,5%, o que ajudará a segurar elevações mais acentuadas no IPCA. Este indicador é o parâmetro da meta oficial de inflação do governo e as expectativas para seu comportamento já chegam perto de 6%. Ou seja, longe do centro do objetivo perseguido, de 4,5%.

- De modo geral, os preços administrados já não são mais os vilões, e vão contribuir para que a inflação geral não suba mais ainda. Mas, em alguns casos, haverá puxadas fortes - afirmou o economista-chefe da corretora Máxima, Elson Teles, para quem os preços administrados subirão 4,2% este ano, acima dos 3,13% registrados em 2010.

O mercado, segundo a pesquisa Focus do Banco Central (BC), prevê alta de 4,4% dos preços administrados, enquanto a autoridade monetária estima 4%. O maior aumento é esperado no setor de transportes, que, em 2010, foi de 5,84%. Agora, há análises de que o reajuste médio poderá superar 9%, mas há situações piores. Em São Paulo, as tarifas de ônibus urbano já subiram 11,11%.

- Este ano antecede as eleições municipais e é bastante comum as prefeituras se anteciparem e aumentarem a tarifa do transporte urbano - explicou a economista do Santander Tatiana Pinheiro, que prevê reajuste de 9,50% no segmento.

O setor de transporte também engloba pedágios, ônibus intermunicipal e interestadual, entre outros, que deverão ter seus preços elevados na mesma magnitude. Outro pesadelo virá dos planos de saúde. Por causa do aumento de renda da população e consequente maior demanda, eles deverão ter aumentos na faixa de 7%, um pouco superior à variação de 2010, de 6,86%.

Remédios também não vão ajudar e, segundo especialistas, deverão ter reajuste médio de 5%. Está próximo à meta geral do governo, de 4,5% pelo IPCA, mas é pesado se comparado com o aumento de 2010, de 3,36%.

Água e esgoto podem subir quase 7% este ano

O analista da consultoria Tendências Thiago Curado lembra ainda que as tarifas de água e esgoto também devem ter aumentos expressivos este ano, de 6,8%. Isso ocorrerá, explicou, porque trata-se de um serviço público que ainda sofre a influência da inflação pelo IGP-M, que em 2010 teve alta de mais de 11%:

- Também houve postergação de vários reajustes por causa do ano eleitoral (de 2010) - disse Curado.

O coordenador Econômico Tarifário da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Ceará, Mário Monteiro, explicou que o serviço de saneamento é de abrangência local e, na maior parte dos mais de cinco mil municípios brasileiros, a tarifa não consegue remunerar o capital, nem bancar a universalização dos serviços.

Mas nem tudo é notícia ruim. no segmento de preços administrados. Há outros serviços e/ou produtos que não vão ter preços muito puxados, como gasolina (não chega a 1% e só terá aumento por causa do álcool que é adicionado à fórmula) e o da telefonia fixa, na casa de 1,7%.

Conta de luz no Rio deve subir, em média, 8% este ano

Também no segmento de energia elétrica o aumento médio não deve ser muito grande. Na visão do mercado, deve ficar um pouco abaixo de 4%, enquanto o BC enxerga variação de 2,8%.

Isso tudo porque há a expectativa de que a revisão tarifária da distribuidora paulista Eletropaulo sairá mesmo este ano e, caso se confirme, pode haver até queda da tarifa cobrada do consumidor paulista. Como a empresa responde por 33% do índice de energia, o aumento médio acaba sendo puxado para baixo também. Especificamente para o carioca, no entanto, o cenário é mais sombrio. Para Curado, da Tendências, a conta de luz no Rio deve subir, em média, 8% este ano.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já informou que não conseguirá fazer as revisões tarifárias antes de setembro porque ainda faltam avaliações técnicas. Como a da Eletropaulo está marcada para julho, as tarifas não devem ser mexidas até o resultado final. As empresas do setor de energia, porém, duvidam que este cronograma possa ser cumprido pela agência, porque a nova metodologia não estará pronta. A aposta é que as revisões só aconteçam em 2012, na época do reajuste anual.