Título: Três cenários para o futuro do Egito
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 06/02/2011, O Mundo, p. 48
À medida que a crise política no Egito fica mais violenta e incerta, os analistas começam a se voltar a paralelos históricos em busca de respostas. Um movimento islâmico ou um novo ditador ¿ ou ambos ¿ surgirão para tomar o controle, numa repetição da Revolução Iraniana de 1979? Ou será que a tradição secular do Egito e suas Forças Armadas poderosas permitirão uma transição, ainda que conturbada, para a democracia, como aconteceu na Indonésia em 1998? Ou, ainda, algo entre os dois cenários, como o resultado inicial da Revolução Romena de 1989?
No Egito, nenhum movimento rumo à democracia estará assegurado sem que antes sejam feitas mudanças nas leis e na Constituição. A próxima eleição presidencial está marcada para setembro, mas um cuidadoso processo de reforma será necessário para assegurar a transição. Tirados da História, aqui estão os três cenários possíveis mais discutidos pelos analistas:
O xá iraniano Mohammad Reza Pahlavi era socialmente progressista, com uma abordagem amplamente secular. Mas quando foi derrubado por uma revolução popular, o grupo teocrático liderado pelo aiatolá Ruhollah Khomeini tomou o poder. O paralelo é imperfeito ¿ não há nenhum líder religioso egípcio vivendo em Paris à espera de um retorno triunfal ao Cairo ¿ mas alguns especialistas estão preocupados com a possibilidade de algum movimento islâmico egípcio tomar as rédeas da revolta, como a Irmandade Muçulmana.
Em 1998, o regime autoritário de 32 anos do presidente Suharto chegou ao fim na Indonésia. Ele era outro antigo aliado dos EUA cuja partida causou temores. Mas, no fim, o mais populoso país muçulmano do mundo realizou uma longa e conturbada transição para a democracia e continuou a ser um parceiro chave dos EUA.
Revolucionários romenos derrubaram o ditador Nicolau Ceaucescu em 1989 ¿ e o mataram ¿, mas, numa questão de meses, os militares e a elite comunista garantiram sua sobrevivência, com o presidente designado, um ex-aliado de Ceaucescu, recebendo 85% dos votos nas eleições de maio de 1990.
O que salvou a Romênia no final foi o fato de que ela queria ser um membro da Otan e da União Europeia, o que a forçou a adotar um governo democrático. Mas tais incentivos não estão disponíveis para o Egito.