Título: Carvalho: governo vai negociar
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 05/02/2011, O País, p. 9

"Haverá um trabalho com as centrais, a base e a oposição"

SÃO PAULO. Questionado sobre a possibilidade de levar a disputa ao voto no Congresso, Gilberto Carvalho disse que o governo está preparando o terreno:

- A votação vai acontecer. Haverá um trabalho com as centrais, com a base do governo e com a oposição sobre a inconveniência de fazer uma mudança no acordo.

O deputado Paulo Pereira (PDT-SP), o Paulinho da Força, afirmou que Mantega age como "testa de ferro do mercado" e que Dilma está retomando ideais da era Fernando Henrique Cardoso.

- Estamos incomodados com esse início de governo Dilma. Há uma tentativa do mercado de mandar em tudo - afirmou Paulinho, que citou a possibilidade de "grandes manifestações contra o governo nos próximos dias". - O ministro da Fazenda atua como uma espécie de "testa de ferro" do mercado. Lula intervia em nome dos trabalhadores. Mas a Dilma, em vez de ser uma "árbitra", começa a assumir a posição (do mercado).

Já Antonio Neto, da CGTB, que fez campanha ao lado de Dilma no interior de São Paulo em 2010, afirmou que a bandeira da continuidade está abalada.

- Os derrotados da eleição de 2010 estão pautando a economia e impedem o governo de defender o que foi a bandeira do governo Lula - disse Neto.

O presidente da UGT, Ricardo Patah, também se queixou diretamente da presidente por não manter uma posição mais neutra na negociação.

- Estamos um pouco surpresos. Dilma não nos atendeu ainda e, nas duas oportunidades que teve, engessou nossa negociação - disse Patah.

De acordo com Artur Henrique, presidente da CUT, os trabalhadores não aceitarão qualquer proposta que não contemple os três itens da pauta sindical.

- É absurdo dizer que não podem dar um aumento de renda (em 2011) por causa do risco da volta da inflação. É uma visão fiscalista - disse Artur.

CUT diz que é frustrante negociar com o governo

A CUT, mais próxima do governo, chegou a divulgar avaliação de que houve sinalizações positivas durante a reunião, como a oferta de discussão de um acordo paralelo de valorização das aposentadorias e uma correção da tabela do IR nos próximos quatro anos. Esse último item não foi anunciado nas entrevistas.

- Foi frustrante porque queríamos ter saído daqui hoje (ontem) com (definição) o valor de reajuste da tabela do IR - completou o líder da CUT.

Wagner Gomes, presidente da CTB, afirmou que seu grupo irá protestar contra o governo:

- Vamos ver quais são os instrumentos de luta para conquistar as reivindicações.

E José Calixto Ramos, da Nova Central, já antecipa o embate no Congresso:

- Se não houver proposta do governo, nosso embate será no Congresso.