Título: Desmatamento volta a subir na Amazônia
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 05/02/2011, O País, p. 10

Satélite mostra avanço dos madeireiros em áreas intocadas de floresta; preocupado, Ibama reforça fiscalizações

BRASÍLIA. Alarmado pelo repique do desmatamento na Amazônia em 2010, o Ibama antecipou a temporada de fiscalizações, que normalmente são deflagradas em março. Nesta semana, o Ibama já desmontou um desmatamento em área pública: foi aberta uma clareira de 2 mil hectares em Castelo dos Sonhos, distrito de Altamira, no Pará. O cerco aos contraventores no chamado cinturão do desmatamento (Pará, Mato Grosso e Rondônia) força os madeireiros a migrar rumo às áreas de difícil acesso e floresta virgem no Amazonas, o maior e mais bem preservado estado da região.

Depois de identificar o avanço em direção às matas intocadas, os fiscais elegeram cinco grandes pontos de combate aos madeireiros, guarnecidos por patrulhamento aéreo e fluvial: o Sul do Amazonas; o Sul de Roraima; a região de Barra do Corda, no Maranhão; o Centro-Sul do Pará; e a área crítica de desmate na divisa entre Pará e Mato Grosso. Dez ações estão em curso neste momento.

Em Castelo dos Sonhos, os fiscais se surpreenderam com o tamanho da destruição - equivalente a 2 mil campos de futebol - em pleno período de chuvas e numa área de difícil acesso. Além do embargo do terreno, o Ibama já pediu à Justiça autorização para destruir maquinário e veículos, mas ninguém foi preso em flagrante.

- O objetivo dessas ações é pegar o desmatamento ativo. Prender as pessoas, apreender o maquinário, os tratores. Só assim você consegue combater o desmatamento - afirma o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Luciano de Meneses Evaristo.

Segundo dados entregues ao Ibama pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento da Amazônia cresceu 8% entre agosto e dezembro do ano passado, na comparação com 2009. O levantamento do Deter, sistema de alerta do Inpe, aponta 1.236km² de desmatamento, contra 1.144km² do ano anterior. Para o Ministério do Meio Ambiente, os madeireiros e pecuaristas se beneficiaram do relaxamento da fiscalização, provocado pelo deslocamento de agentes para combater as queimadas em 2010.

- Em agosto, setembro e outubro tivemos um período atípico, com queimadas. Temos recursos limitados e demos prioridade às frentes de combate às queimadas - disse o diretor de Prevenção e Combate ao Desmatamento do MMA, Mauro Pires.

Ele salienta, entretanto, que o Deter não é um medidor preciso de desmatamento. Pela baixa nitidez e por sua incapacidade de captar imagens através das nuvens, serve mais como um sinalizador de focos significativos de devastação. O Deter, por exemplo, já demonstrou que as motosserras operam a pleno vapor em Boca do Acre (AM), município que combina fauna e flora de altíssimo valor para a biodiversidade.

- O estado do Amazonas é prioridade máxima. Os desmatadores insistem em migrar para dentro da floresta, escolhendo a região à esquerda do Pará. Temos que evitar que o Amazonas vire o Pará. Lá (no Pará), a briga é violenta. É uma terra sem lei - ressalta o diretor do Ibama.

O mapa do desmatamento que norteou o plano de operações de 2011 revela a repetição de pontos críticos de devastação, como as regiões Novo Progresso (PA) e Sinop (MT). Mas também determinou pontos pouco explorados e que merecem atenção especial, como as florestas de Roraimópolis (RR), Juína e Aripuanã (MT), além de Boca do Acre (AM).

Nos próximos meses, a fiscalização vai contar com o reforço do satélite japonês Alos. Será possível captar imagens da floresta entre as nuvens e à noite. Ele possui um modo de observação capaz de obter imagens com uma faixa de observação de até 350 quilômetros. Os primeiros registros extraoficiais do Alos devem estar disponíveis nos próximos dias. A data da operação do sistema, que se soma ao Deter, ainda não foi definida.

Em 2011, o Ibama planejou 246 operações de combate ao desmatamento, contra 178 executadas em 2010. Para reforçar o patrulhamento aéreo, novas aeronaves devem ser alugadas para o transporte de equipes e monitoramento. Em outra frente, o Ibama negocia com a Polícia Federal o uso dos Vants (Veículos Aéreos Não Tripulados) para identificar focos de desmatamento.

- A ideia é alugar os Vants da PF. Vai facilitar a vistoria dos planos de manejo, o monitoramento da violação de áreas embargadas e do desmatamento - conta Mauro Pires.