Título: Não faltou energia, faltou transmissão
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 05/02/2011, Economia, p. 25
Palavra de especialistas
Raimundo Batista - Enecel Energia
Pinguelli Rosa - Coppe/UFRJ
Edmilson dos Santos - Inst. Energia/USP
O apagão ocorrido na madrugada da última quinta-feira no Nordeste deixou clara a fragilidade em que se encontra o sistema de energia da região. Esta pelo menos é a opinião de vários analistas ouvidos pelo GLOBO. Para o especialista do setor Raimundo de Paula Batista, o Nordeste vem passando por uma grande expansão da economia, o que provoca um consumo elevado de energia. Para o especialista, o sistema de energia da região precisa ser reforçado nos sistemas de transmissão e também com térmicas.
- Se poderia ter certa previsibilidade de que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde no Nordeste - disse ele. - Acho que o mais importante não é aumentar a geração de energia local, mas sim aumentar os investimentos no sistema de transmissão.
Segundo Raimundo Batista, se na região existissem mais linhas de transmissão, certamente a demanda do sistema da subestação Luiz Gonzaga poderia ter sido suprida pela energia. No momento do apagão, a carga no Nordeste era de 8.800 megawatts (MW) médios, dos quais 3.100 MW vinham do Sudeste.
As usinas térmicas a gás natural também seriam a solução para evitar pequenos e grandes apagões. Os especialistas não veem problemas na geração de energia, mas na malha de transmissão.
Ao contrário do que ocorreu no apagão de 2001, que levou a um racionamento de luz em todo o território nacional, o problema do sistema elétrico no país atualmente não é falta de energia, mas sim a distribuição, segundo Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ.
- Hoje o problema não é a energia, mas ela tem que chegar onde é necessária. Isso só é possível com mais investimentos e melhorando a operação do sistema - afirmou Pinguelli.
O professor Edmilson Moutinho dos Santos, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, também concorda que o problema não é a oferta de energia, mas sim a transmissão.
- Não falta energia. Com toda essa chuva? O problema é lidar com os momentos de pico na demanda. No verão, há muito aparelhos de ar-condicionado ligados. O sistema da Chesf é moderno, mas está sendo construído desde 1950. Deve ter linhas modernas e outras muito antigas. Mas é uma teia de aranha, uma coisa só. Se há um problema em uma linha antiga, pode ser que uma linha nova não aguente. É uma rede - explicou Moutinho.
Para o especialista Silvio Areco, diretor-executivo da empresa de consultoria Andrade & Canellas, um acidente como esse seria difícil evitar, pois o sistema é feito para isolar o local onde ocorre alguma falha e evitar que se propague. Segundo ele, pela subestação que teve problema é que passa boa parte de energia para os demais estados. Nesse caso, somente a construção de outras linhas de transmissão evitaria o problema (Ramona Ordoñez e Daniela Amorim).