Título: Cada vez mais distantes
Autor: Klingl, Erika
Fonte: Correio Braziliense, 24/07/2009, Cidades, p. 32

Decisão do PDT de lançar candidato a governador e senador torna improvável uma aliança com o PT no ano que vem

Cristovam (c) e Magela (e): cena improvável de se repetir em 2010

Ainda faltam quase 15 meses para as eleições de 2010, mas a oposição já dá sinais de que chegará rachada e enfraquecida ao pleito. Em uma reunião da executiva regional do PDT na noite de quarta-feira, o partido decidiu pela consolidação da chapa majoritária, com candidaturas avulsas para o Palácio do Buriti e o Senado. Após uma análise da conjuntura política local e nacional, ficou praticamente sepultada qualquer chance de coligação com o PT.

Aos aliados, o senador Cristovam Buarque tem dito que a posição crítica assumida no caso dos atos secretos envolvendo o senador José Sarney (PMDB-AP) estaria irritando o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Petistas respondem com um discurso contrário. Acusam Cristovam de estar jogando para tentar atrair apoios importantes para o nome dele na campanha de reeleição ao Senado.

Caso se confirme, não será a primeira vez que os dois partidos se colocam em lados opostos na corrida ao Palácio do Buriti. Apenas em 1998 (veja quadro ao lado) PT e PDT compuseram a mesma coligação para o governo local na história das eleições diretas ao Governo do DF. Na ocasião, Cristovam acabou derrotado por Joaquim Roriz.

A posição adotada pelo PDT causou reações controversas no Partido dos Trabalhadores. O presidente regional da legenda, Chico Vigilante, não esconde a irritação. ¿É ruim que tenha alguém disposto a dividir numa hora como essa. Se a oposição perder as próximas eleições, a responsabilidade será toda deles, que estão dividindo a esquerda do DF¿, argumenta. ¿A primeira coisa que o PDT poderia fazer era ser coerente, já que tem ministro no governo Lula (Carlos Lupi comanda a pasta do Trabalho), mas o próprio Cristovam apresentou um pedido de censura (1)contra o presidente¿, completa. Para Vigilante, o eleitor do DF ¿não é bobo e saberá separar o que é coerência política e o que é oportunismo¿.

¿Coerência¿

Já o deputado federal Geraldo Magela (PT), pré-candidato ao Palácio do Buriti, tenta colocar panos quentes. ¿Não haverá enfraquecimento. A candidatura do PDT para o governo local pode ajudar o PT a chegar ao segundo turno, como ocorreu em 2002¿, avalia. ¿O importante é consolidarmos uma posição de apoio no segundo turno das eleições¿, completa.

Pré-candidato lançado pelo PT, Agnelo Queiroz também cobra coerência do PDT. ¿Não dá para servir a dois senhores. Eles têm cargos (2)no governo local do DEM e no governo federal do PT.¿ Para ele, apesar do racha, não há enfraquecimento. ¿Vamos esperar a decisão do PDT, mas caso eles não queiram mesmo sair conosco, vamos concorrer com nossos aliados tradicionais¿, afirma.

Do encontro da executiva do PDT, saíram mais uma vez os nomes de Cristovam para o Senado e do deputado distrital José Antônio Reguffe para o governo do DF. ¿A reunião não foi para tratar isso, mas acabamos reiterando a decisão de termos uma chapa própria¿, reconhece Reguffe. De acordo com ele, o partido, no entanto, não está todo fechado com essa proposta. ¿Ainda temos uma parcela que defende a aproximação do PT e outra que quer nosso alinhamento com o Arruda¿, avalia.

O próprio Reguffe admite que ainda não está totalmente convicto da decisão de concorrer ao governo. ¿Teremos chapa própria, mas ainda não sei se serei candidato por motivos pessoais. Sei que fiz um bom trabalho, mas não estou decidido a dar mais quatro anos da minha vida à política.¿

1 - PIZZAIOLOS Às vésperas do recesso do Senado, Cristovam Buarque apresentou um requerimento de censura à declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chamou os senadores de ¿bons pizzaiolos¿.

2 - EDUCAÇÃO INTEGRAL Integrante do grupo político de Cristovam, Marcelo Aguiar é secretário extraordinário de Educação Integral. Ele foi escalado para administrar o projeto que prevê a ampliação da permanência das crianças nas escolas.

É ruim que tenha alguém disposto a dividir numa hora como essa. Se a oposição perder as próximas eleições, a responsabilidade será toda deles, que estão dividindo a esquerda do DF

Chico Vigilante, presidente do PT-DF

Histórico

Nas cinco eleições para governador do Distrito Federal, PT e PDT saíram na mesma coligação apenas em 1998.

1990 PT e PDT se enfrentaram na primeira eleição direta para governador do DF. Em 1990, o então governador Elmo Serejo se licenciou para concorrer pelo Movimento Liberal Progressista. No entanto, acabou em quarto lugar atrás do vencedor do pleito, Joaquim Roriz (PMDB), do médico Carlos Saraiva (PT) e do candidato do PDT, Maurício Corrêa. Além deles, Adolfo Lopes Jamel Edin disputou pelo PTB.

1994 Cristovam Burque era do PDT e trocou de partido para concorrer ao Palácio do Buriti. No PT, disputou as prévias e derrotou Paulo Bicca e Carlos Saraiva. A mudança de partido afugentou o PDT da coligação, que acabou saindo com Paulo Cézar Timm. Cristovam ganhou dele e também de Valmir Campello (PTB/PMDB/PFL/PP), Maria de Lourdes Abadia (PSDB), Ildeu Araújo (Prona) e João Ferreira da Silva (PSC/PSD).

1998 Apesar de ter disputado as prévias, Cristovam Buarque foi candidato à reeleição com o apoio do PDT, PV, PSB, PcdoB, PMN, PCB e PSN. Acabou perdendo para Joaquim Roriz, do PMDB. Além deles, concorreram Renan Rosa de Arruda (PCO), José Roberto Arruda (PSDB), David de Oliveira (PSDC) e Orlando Cariello (PSDC).

2002 Joaquim Roriz (PMDB) acabou reeleito. PT e PDT mais uma vez saíram em coligações diferentes. O Partido dos Trabalhadores lançou Geraldo Magela. Já o PDT apoiou Carlos Alberto Torres, do PPS. Orlando Cariello (PSTU), Rodrigo Rollemberg (PSB), Expedito Carneiro (PCO), Gulherme Trota (PRTB) e Benedito Domingos (PPB) também saíram candidatos.

2006 Com a candidatura do senador Cristovam Buarque à Presidência da República, o PDT teve posição discreta nas eleições do DF. O PT saiu com Arlete Sampaio apoiada pelo PV, PcdoB, PSB, PRTB e PRB. Ela perdeu para José Roberto Arruda (DEM), que também derrotou Maria de Lourdes Abadia (PSDB), Maria de Fátima Cavalcanti (PSDC), Expedito Mendonça (PCO) e Antônio Carlos de Andrade (PSol).