Título: Secretário americano pede mais críticas à política cambial da China
Autor: Beck, Martha; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 08/02/2011, Economia, p. 18
Geithner reconhece pressão externa no Brasil. Dólar sobe após 5 leilões do BC
BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO. Os Estados Unidos querem que o Brasil seja mais crítico em relação à política cambial da China, que mantém sua moeda artificialmente desvalorizada para dar mais competitividade às exportações. O recado foi dado ontem pelo secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao discutirem a reunião do G-20 (grupo das principais economias do mundo), semana que vem, em Paris, e a vinda do presidente Barack Obama ao Brasil em março. Geithner reconheceu ainda que o Brasil enfrenta pressão desproporcional dos fluxos de capital sobre o dólar.
Ontem, a moeda americana avançou ontem 0,24%, a R$1,68, após cinco leilões de compra do Banco Central (BC): três foram no mercado a termo e dois no à vista, somando cerca de US$1 bilhão, segundo operadores. Foi o quarto pregão seguido de alta, o que não ocorria desde julho de 2010. Na Bolsa de Valores de São Paulo, investidores aproveitaram ações baratas de bancos, varejistas e incorporadoras, mais afetadas pelas recentes quedas. O Ibovespa, seu principal índice, avançou 0,14%, aos 65.362 pontos.
Argumento de que problema chinês é maior para o Brasil
Chineses e americanos têm sido os protagonistas da chamada guerra cambial. Mantega, porém, vem defendendo publicamente que os Estados Unidos suspendam medidas que enfraqueçam o dólar (como taxas de juros em torno de zero) a fim de convencer os chineses.
Segundo técnicos do governo, no encontro com Mantega, Geithner pediu apoio na questão cambial, que será um dos principais temas do G-20. Ele fez questão de dizer que a política chinesa causa problemas tanto para os EUA como para o Brasil e assegurou que o governo americano não precisará continuar adotando medidas que afetem o dólar porque a economia do país já começou a se recuperar.
- Ele buscou convencer Mantega de que o problema chinês é maior para o Brasil que para os Estados Unidos - disse um técnico.
Já na Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, em evento que teve o ex-presidente do BC Henrique Meirelles como mestre de cerimônia, Geithner falou sobre a pressão dos fluxos de capital sobre o câmbio e afirmou que é necessário apressar os ajustes, especialmente fiscais, para corrigir a situação. Ele citou o bom momento da economia brasileira e os juros altos como fatores que atraem investidores internacionais. Mas acrescentou, sem citar a China, que os sistemas cambiais adotados por alguns emergentes para preservar suas moedas também ajudam a valorizar o real:
- Os legisladores no Brasil precisam encontrar formas, juntamente com os ajustes fiscais necessários, de reduzir a pressão (no câmbio) dos fluxos de capital, para que não se tornem um risco maior no futuro.
Outro ponto discutido por Geithner e Mantega foi a necessidade de uma posição coordenada em relação à proposta europeia de regular os preços internacionais das commodities. Os dois países, ambos grandes exportadores, temem que isso leve a medidas protecionistas.
Geithner também se encontrou com Dilma Rousseff e o presidente do BC, Alexandre Tombini. Segundo o porta-voz da Presidência, Rodrigo Baena, Dilma defendeu a parceria com os EUA nas discussões sobre commodities. O secretário disse ainda que o fato de China e Brasil adotarem medidas contra a inflação não traz riscos à recuperação da economia global.
COLABOROU Bruno Villas Bôas