Título: Apagão no Nordeste ocorreu por problema em software
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 08/02/2011, Economia, p. 19

Equipamento desligou por segurança, afetando 40 milhões

BRASÍLIA e SALVADOR. O cartão eletrônico do sistema de proteção da subestação de energia de Luiz Gonzaga, na divisa entre Bahia e Pernambuco, foi a causa do apagão que deixou sem energia mais de 40 milhões de habitantes da Região Nordeste por até cinco horas na madrugada da última sexta-feira, garantiu ontem o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. Uma falha fez com que o componente, espécie de software, entendesse que estava em curso uma ocorrência grave no linhão que liga a subestação à hidrelétrica de Sobradinho, desligando toda a comunicação com a usina e desencadeando um efeito-cascata.

Segundo um especialista do setor, o cartão funciona de forma semelhante a um conjunto de disjuntores de uma casa, que desligam quando há um problema da rede externa, para que, por exemplo, não queime uma geladeira. Indústrias e grandes lojas também têm sistemas semelhantes.

A diferença no caso da subestação de Luiz Gonzaga é que o sistema é muito maior e o cartão tem uma capacidade mais ampla. Sua função é isolar problemas, como incêndios e sobrecargas, para evitar contaminação da rede. Mas, o componente deu um defeito e, em vez de proteger a rede, informam os técnicos, acabou desligando todo o sistema, causando o apagão.

Governo faz reunião extraordinária do setor

Zimmermann negou ainda que tenha havido problemas de manutenção. Ele afirmou que existem "os documentos formais" que comprovam estes procedimentos:

- Efetivamente houve um defeito no cartão.

O secretário disse que a subestação de Luiz Gonzaga, onde ocorreu o problema, é uma das mais importantes do sistema nordestino de abastecimento, porque passam por ela seis circuitos (seis grandes linhas de transmissão) que distribuem energia para todo o Nordeste.

Desde sexta-feira, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) vem conduzindo, com as distribuidoras dos oito estados atingidos, a chamada análise de perturbação. Trata-se da avaliação técnica do blecaute.

Ontem, foi realizada uma grande reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), convocada extraordinariamente pelo governo. Participaram todas as cúpulas da Eletrobras, de sua subsidiária Chesf - que opera Sobradinho e as linhas de transmissão afetadas - e do ONS. O presidente da Chesf, Dilton da Conti Oliveira, reforçou que não houve problema de manutenção:

- Temos índices elevadíssimos de referência nacionais de execução de manutenção.

Quanto à demora de cerca de cinco horas para a luz voltar, ele afirmou:

- Não é questão de prazo lento, mas de prazo possível. A preocupação imediata, do ONS como nossa, pois tínhamos que dar o suporte, além das concessionárias estaduais, foi a recomposição do sistema, que foi feita no menor tempo possível.

Conti descartou ainda a possibilidade de as linhas de transmissão estarem trabalhando no limite - a região é uma das que apresentam crescimento econômico mais acelerado nos últimos anos. Ele disse que os investimentos necessários estão sendo feitos.

Os deputados do PSDB Antonio Imbassahy (BA) e Rui Palmeira (AL) apresentaram ontem um pedido oficial de explicações ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, sobre as causas do apagão. Eles querem que o governo aponte de quem foi a responsabilidade pelo blecaute.

Camaçari só funcionará plenamente em nove dias

Os parlamentares vão solicitar também ao Ministério Público uma investigação para garantir que os consumidores sejam ressarcidos dos prejuízos. Vão cobrar ainda que o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) façam auditorias.

Responsável por cerca de 33% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) da Bahia, o Polo Industrial de Camaçari só deverá voltar a funcionar a plena carga no dia 16 de fevereiro, 13 dias após o apagão. A previsão inicial era de que a situação seria normalizada em cinco dias. Mas, ontem, só metade das 90 empresas no complexo industrial operavam normalmente.

O presidente do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic) e vice-presidente de insumos básicos da Braskem, Manoel Carnaúba, disse que não há uma estimativa dos prejuízos gerados pelo apagão, mas prevê que as perdas serão maiores do que as estimadas inicialmente.

COLABOROU João Pedro Pitombo, especial para O GLOBO