Título: Com Mubarak vivemos muito bem
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 08/02/2011, O Mundo, p. 24

Sem trabalho, empregados do setor turístico se aliam a presidente

CAIRO. A emoção que se vive na Praça Tahrir, onde manifestantes lutam por um Egito democrático, contrasta com a desolação vivida no Parque Nacional de Gizé, onde ficam a Esfinge e as pirâmides de Quéops, Quéfren e Menkaure. Insatisfeitos com uma revolta que os deixou de braços cruzados ¿ o governo decretou o fechamento dos principais pontos turísticos ¿, empregados do setor culpam os manifestantes pela crise.

A pedido do Ministério do Interior, como sugerem algumas fontes, ou por conta própria, vários funcionários de Gizé decidiram protestar, mas agora em defesa de seu presidente.

¿ Como vamos sobreviver? ¿ pergunta Gamal. ¿ Está tudo fechado há 14 dias. Não entra uma libra. Nós não temos o que comer, mas temos de continuar alimentando os cavalos e os camelos. Quem vai pagar?

Os distúrbios estão custando cerca de 250 milhões por dia à economia, e o maior prejudicado é o setor turístico. Só no parque de Gizé, circulam diariamente uma média de 5 mil pessoas. Agora, sem turistas, o comércio local praticamente fechou. Os poucos estabelecimentos que arriscam abrir suas portas ficam vazios. Segundo um comerciante, os únicos clientes são jornalistas.

¿ Mubarak é um homem bom. Com ele vivemos muito bem. Ele aceita subornos porque todos os governantes de Egito, Espanha e até Estados Unidos aceitam ¿ diz Abdul. ¿ Com Mubarak havia turistas de todas as nacionalidades. Agora, não há nenhum ¿ acrescenta o colega Abdullah.

A situação do mercado de Khan el-Khalili é ainda pior. Quase todas as lojas estão fechadas. Dono de uma joalheria no local, Said Guzlan também defende o regime.

¿ Os presidentes anteriores não permitiam o menor dos protestos. Mubarak permite, e o que nós temos? Destruição, saques e assassinatos ¿ avalia.