Título: Congresso sofre ameaça de corte de emendas
Autor: Jungblut, Cristiane; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 09/02/2011, O País, p. 9

Planalto pressiona para que proposta do mínimo não mude

BRASÍLIA. Para evitar surpresas na votação, o Palácio do Planalto mandou ontem o seguinte recado aos parlamentares da base aliada no Congresso: caso seja feita qualquer modificação na proposta do governo, de R$545 para o salário mínimo, a diferença terá que ser compensada com um corte orçamentário maior do que o previsto. Nesse caso, as emendas individuais dos parlamentares seriam as mais sacrificadas.

O governo endureceu ainda mais o jogo para mostrar que é preciso dar uma sinalização clara de responsabilidade na condução da política econômica. O recado funcionou. E ontem, até aliados insatisfeitos recuaram nas críticas. Pelo menos neste primeiro momento, o PDT ficou isolado na cobrança de um salário mínimo maior, em solidariedade ao deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical (PDT-SP). Até o PMDB, que está numa queda de braço por cargos, assumiu uma posição de consenso com o Palácio do Planalto.

- Vamos colocar para votar o salário mínimo na próxima terça. E vamos aprovar o texto. A proposta já tem o apoio de todos os partidos da base, com a exceção do PDT. A valorização do salário mínimo começou com a regra criada pelo governo Lula. Vamos continuar com essa política que deu certo - disse o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves.

"Não somos inimigos, somos aliados", reage Paulinho

No Palácio do Planalto, foi bem recebida a declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Senegal, chamando os sindicalistas de oportunistas, por tentarem mudar a regra do mínimo. A fala de Lula foi articulada pelo ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência, que viajou com o ex-presidente ao Fórum Social Mundial, em Dacar.

Carvalho participou da reunião com as centrais sindicais na última sexta-feira e relatou a dificuldade nas negociações. A fala de Lula foi considerada importante no governo para esvaziar o discurso dos sindicalistas. Mas, por outro lado, ministros avaliam que foi aberta uma brecha para que Lula volte a dar opinião sobre temas do governo.

A relação com as centrais ainda é tensa. Paulinho disse esperar que o governo não interrompa as negociações. Para ele, se o governo enviar ao Congresso uma proposta fixando o mínimo em R$545, isso significará o rompimento das negociações.

O sindicalista lembrou que foi um dos mais ferrenhos defensores da candidatura de Dilma Rousseff. Por isso, avisou: os aliados não devem ser tratados como inimigos:

- A pior coisa é tentar derrotar aliado. E não somos inimigos, somos aliados - afirmou: - Se o projeto vier, vamos voltar nossas baterias para o Congresso. Mas isso é ruim para o futuro. (Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut)