Título: Mantega critica proposta francesa para controlar preço de commodities
Autor: Lignelli, Karina
Fonte: O Globo, 12/02/2011, Economia, p. 34

SÃO PAULO e RIO. Os ministros da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, e de Economia da Argentina, Amado Boudou, se reuniram ontem em São Paulo para discutir uma agenda comum para a reunião do G-20, na próxima semana, em Paris. Ambos se colocaram contra a proposta de controle da volatilidade de preços das commodities, feita pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy.

¿ Somos grandes exportadores e, portanto, temos posições semelhantes quanto ao que se deve fazer, ou melhor, ao que não se deve fazer a esse respeito ¿ disse Mantega após o encontro, sem citar o nome de Sarkozy.

`É preciso estimular produção, não inibir¿, diz ministro

A preocupação de Sarkozy, que ocupa a presidência rotativa do G-20 neste ano, é que a volatilidade nos preços das commodities possa afetar a ainda incipiente recuperação de EUA e países europeus, depois da crise financeira deflagrada em 2008. De outro lado, países como Brasil e Argentina ganham com a alta atual de preços, por serem grandes exportadores de produtos primários.

Para Mantega, é preciso ¿estimular o aumento da produção, não inibir¿.

¿ Na verdade, as commodities apanharam durante décadas e décadas ¿ afirmou o ministro brasileiro. ¿ As causas para essa elevação (de preços) estão muito bem detectadas. Se tem alguma coisa a ser feita nesse campo, é estimular o aumento da produção, não inibir.

Já Boudou disse que Brasil e Argentina vão adotar ¿uma defesa forte e fechada¿ para a manutenção das regras atuais:

¿ Não pode passar para uma regulação no preço das commodities ¿ afirmou.

Especialistas brasileiros também refutam a proposta francesa.

¿ Sarkozy deveria aproveitar a presidência do G-20 para atacar os subsídios europeus, que são o maior entrave à expansão da produção nos países em desenvolvimento ¿ afirma Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e diretor do Centro de Estudos do Agronegócio na Fundação Getulio Vargas (FGV).

Ele cita estudo recente da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevendo que a demanda mundial de alimentos vai aumentar em 20% na próxima década. A Europa, segundo o estudo, tem condições de ampliar sua produção em apenas 4%; a Austrália, em 7%; a dupla Estados Unidos-Canadá, em 15%; e o grupo de países formado por Rússia, Índia, China e Ucrânia, em 27%. Já o Brasil, por sua vez, poderia expandir sua produção em 40%.

O analista José Carlos Hausknecht, da MB Agro, afirma que uma regulação nos preços das commodities inibiria um aumento de produção:

¿ A tentativa de regular os preços é contraproducente, porque, se num primeiro momento provoca uma queda artificial dos preços, numa segunda fase acaba desestimulando o produtor

COLABORARAM: Henrique Gomes Batista e Liana Melo