Título: Precisa-se de profissionais qualificados
Autor:
Fonte: O Globo, 13/02/2011, Opinião, p. 6

Os índices de desemprego nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE estão no mais baixo patamar desde que o órgão iniciou em 2002 a atual série histórica, logo abaixo de 7%. Nas estatísticas do Ministério do Trabalho que contabilizam o emprego formal, a abertura de vagas com carteira assinada se expandiu a um ritmo de quase três vezes ao do aumento da população economicamente ativa no ano passado.

A economia brasileira tem condições de continuar evoluindo satisfatoriamente em 2011 e nos anos seguintes - o que está condicionado a ajustes macro e microeconômicos -, de modo que o desemprego pode não subir muito. Inevitável, o ajuste fiscal a ser feito este ano irá reduzir a velocidade do crescimento econômico, mas nada em proporção desastrosa, caso a política econômica seja bem administrada.

Neste cenário, a falta de mão de obra qualificada pode se tornar um sério entrave. Há uma espécie de corrida contra o tempo, pois é preciso acelerar programas e iniciativas de melhora da educação, do ensino básico ao superior. Entretanto, sabe-se que os resultados desse esforço não são colhidos de imediato.

Alguns atalhos serão necessários para que não se perca essas oportunidades de ocupação. Embora os índices retratem uma situação de redução de desemprego, ao se detalhar tais indicadores observa-se que ainda é elevada a desocupação entre os mais jovens, sem experiência.

A qualificação profissional não está desassociada de uma boa qualidade de ensino. Porém, mesmo com as deficiências do sistema educacional, programas de qualificação profissional podem ajudar a preencher lacunas em prazos relativamente curtos.

Os cursos profissionalizantes vêm se multiplicando no país, tanto nas instituições tradicionais de formação de mão de obra (Senai, Senac, Senat, etc) como nas redes públicas e privadas, o que é uma boa notícia. Várias iniciativas buscam atender a demandas específicas, como é o caso do setor de petróleo (via um programa intitulado Prominp). No Rio de Janeiro, o governo estadual adicionou ao ensino técnico uma experiência interessante, que é a dos Centros de Vocação Tecnológica, onde há cursos que levam de dois meses a dois anos, voltados para o atendimento a demandas locais. Grandes empreendimentos, como o de hidrelétricas, também , por necessidade própria, acabam constituindo núcleos de formação profissional em seus canteiros de obra.

Mas, mesmo com esses avanços, o esforço ainda é insuficiente. Nas maiores regiões metropolitanas brasileiras estima-se que haja 1,5 milhão de pessoas desempregadas ou mal empregadas. Não é um número desprezível. Nas favelas cariocas reocupadas pelo poder público observa-se claramente um considerável número de jovens que foram atraídos por traficantes de drogas para funções auxiliares. Não se tornaram bandidos e podem voltar a ter uma vida normal, mas esbarram na falta de qualificação profissional.

Para que a economia brasileira enfrente seus desafios nos próximos anos - que podem se resumir em um só, aumento de produtividade - o país precisará de bons profissionais, qualificados.