Título: Ele tem mais afinidade conosco
Autor: Herdy, Thiago
Fonte: O Globo, 13/02/2011, O País, p. 10

O governador Aécio Neves também não economiza elogios ao colega Eduardo Campos e vê mais afinidade entre eles do que entre seus avós, Tancredo e Arraes.

Quando se aproximaram na época das Diretas Já, imaginava que o Eduardo Campos chegaria onde chegou?

AÉCIO NEVES: Não, e acho que tampouco ele podia me ver com a trajetória que eu fiz. É uma história curiosa, porque Miguel Arraes e Tancredo nunca estiveram muito próximos. Mas, nos momentos cruciais da vida nacional, eles se uniram. Do ponto de vista ideológico, temos uma identidade muito maior do que tinham nossos avós, e isso pode facilitar muito uma aproximação.

Qual seria o peso da lembrança do avô Miguel Arraes no jeito de fazer política do Eduardo?

AÉCIO: O Arraes é uma lenda, pela resistência e pela forma com que demonstrou coragem na defesa dos valores democráticos, porque os desafios naquela época eram estes. Hoje, os desafios são outros. A herança maior é nos princípios, da correção e da seriedade. O Eduardo é um homem que tem um compromisso com o país. Se um dia vamos estar juntos, o destino que vai dizer, mas eu acho que é inexorável. A nossa identidade é tão forte que em determinado momento vamos estar juntos e construir um projeto de Brasil.

O que há no jeito de fazer política do Eduardo que o senhor admira e se identifica?

AÉCIO: Há uma identidade forte na forma de ver o país, temos visão parecida em relação à gestão e à necessidade de intervenção para tornar o estado mais eficiente. Julgo que ele tem muito mais afinidade conosco até do que com muitos aliados que estão na base do governo.

A que aliados o senhor se refere?

AÉCIO: Do ponto de vista de gestão, vejo mais similaridade da ação dele com a nossa do PSDB do que com a do PT.

O que não gosta no jeito dele fazer política?

AÉCIO: Não gosto, hoje, de ele estar em um campo e eu em outro.

Em Pernambuco, é grande a expectativa de Campos se candidatar à Presidência em 2014. O senhor acha que ele deveria?

AÉCIO: Quem sou eu para dizer sim ou não. Ele participa de um grupo político amplo, mas sem dúvida é dos nomes que se afirmam com maior consistência. Ele está se preparando para um voo maior, certamente. Mas é prudente, tem um jeito um pouco mineiro de ver as coisas.

O senhor o apoiaria?

AÉCIO: Agora, somos reféns das circunstâncias que nos cercam. Hoje eu milito em um outro campo político, quem sabe não podemos nos encontrar na frente, independente de o candidato ser ele. Você falar em apoiar alguém que está no outro campo político hoje, pode parecer que você está abdicando de defender esse campo. Mas onde ele estiver, o Brasil vai estar servido.