Título: Nenhuma palavra sobre o período em Petrópolis
Autor: Otavio, Chico; Herdy, Thiago
Fonte: O Globo, 13/02/2011, O País, p. 12

● RIO EBELO HORIZONTE. Depois de passar pela ¿Casa da Morte¿, Ubirajara Ribeiro de Souza, o Bira do basquete e¿Zé Grande¿ dos porões do regime, serviu nas forças da ONU na Faixa de Gaza e em São Domingos, na América Central. Quis ir para o Vietnã, mas seu ex-técnico de basquete Humberto Ladeira diz que o desaconselhou a viajar. Quando voltou do exterior, Ubirajara foi para o Rio, deu baixa no Exército e se formou em Direito. Começava aabertura lenta egradual do presidente Geisel. Militares com o perfil do sargento foram, aos poucos, perdendo espaço e poder. Os porões pararam também de produzir mortos. Depois que a mãe morreu, Ubirajara deixou de visitar Belo Horizonte. Mais adiante, desistiu de ir a jogos de basquete. Hoje, diz que não sai de casa ¿nem de ambulância¿. Recusa-se a contar o que aconteceu em Petrópolis, principalmente com corpos das vítimas que passaram por lá. Consultor da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, o ex-preso político Ivan Seixas suspeita que, para se livrar dos corpos de Petrópolis, a repressão teria repetido a estratégia já constatada em casos semelhantes: com a ajuda de legistas cooptados, enterraram as vítimas como indigentes em valas comuns de cemitérios públicos. Ubirajara insiste em afirmar que alguém o entregou. Revela, com frases sobre a morte iminente e o martírio causado pela doença, que a velhice não lhe garantiu serenidade e paz. Implora pelo sossego que a História parece negar-lhe. ■