Título: PF: delegado levou bando para a prefeitura
Autor: Costa, Ana Cláudia; Ramalho, Sérgio
Fonte: O Globo, 13/02/2011, Rio, p. 21
As investigações da Polícia Federal que resultaram na Operação Guilhotina revelam que, após ter sido afastado da Subchefia Operacional da Polícia Civil, o delegado Carlos Antônio Luiz de Oliveira transformou seu gabinete na Secretaria Especial de Ordem Pública (Seop) em ¿quartel general¿ de sua quadrilha. Preso na sexta-feira sob acusação de liderar um grupo de policiais civis, militares e informantes envolvidos numa série de crimes, o delegado transferiu integrantes do bando à secretaria municipal, onde ocupava o cargo de subsecretário, do qual já foi exonerado. Mais dois policiais, um militar e um civil, se entregaram ontem à PF.
A análise do relatório da PF deixa claro que Carlos Oliveira sabia que estava sendo alvo de investigações. Em conversas telefônicas interceptadas, o delegado demonstrava preocupação com o afastamento da Subchefia Operacional da Polícia Civil. Apesar disso, continuou a manter o controle do grupo, que também atuava como uma milícia na Favela Roquete Pinto, em Ramos.
Essa estratégia de transferir à Seop o núcleo do seu bando é descrita no relatório da PF: ¿O delegado Carlos Oliveira mantém proximidade e comando em relação a vários dos representados, que constituem a espinha dorsal de sua organização criminosa, formando na Secretaria Especial de Ordem Pública, da prefeitura municipal do Rio, novo quartel general para suas atividades ilícitas¿.
Delegado nomeou quatro aliados para seu gabinete
Para isso, o delegado nomeou para atuar em seu gabinete pelo menos quatro integrantes de sua quadrilha. Entre eles, os PMs Carlos Teixeira, o Bigu, Roberto Luis Dias de Oliveita, o Beto Cachorro, Cisneiros e Romão, conforme revelam diálogos transcritos no relatório da PF.
Em conversa com Cisneiros, o sargento da reserva da PM Ricardo Afonso Fernandes ¿ apontado como segundo homem na estrutura da quadrilha ¿ diz que o ¿Dr. Oliveira já está na Seop e que está tentando arrumar uma colocação para Cisneiros e Beto Cachorro¿.
Dias depois, em nova escuta, eles falam sobre a publicação em Diário Oficial da cessão de Cisneiros. Na gravação, Cisneiros avisa a Afonsinho que a publicação saiu no D.O. e demonstra gratidão pelo apoio de Oliveira.
As articulações do ex-subchefe da Polícia Civil incluem ainda a transferência de aliados da Seop para a Polícia Civil. Num trecho do relatório, Cisneiros e Afonso falam de novas movimentações. Afonso avisa ter encontrado Oliveira para pedir transferência de membros do grupo para a Seop. O objetivo dessa estratégia era impedir o avanço das investigações internas na Polícia Civil: ¿Já vou ver aquele negócio com o Dr. Oliveira (...) Ele já tá lá (Seop) e ficou de ver o seu caso e o do Beto Cachorro ¿, disse Afonso.
Cisneiros então demonstra alívio: ¿Beleza, beleza, por enquanto ainda tamo ainda né, pois é só dia 10 que vai entregar os equipamentos (armas desviadas), as coisas todas e ainda tem um tempinho¿.
O sargento da PM Afonso, então, explica ao aliado que há tempo para cumprir os prazos (vender armas e munições desviadas da ação no Complexo do Alemão): ¿Eu não tô falando para você, que tem tempo. Agora é só esperar a publicação no Diário Oficial ¿ conclui¿.