Título: Beltrame diz que Allan não tem carta branca
Autor: Costa, Ana Cláudia; Ramalho, Sérgio
Fonte: O Globo, 13/02/2011, Rio, p. 21

Segundo o secretário de Segurança, nenhum integrante do alto escalão de sua pasta está garantido no cargo

Um dia após assegurar que o chefe da Polícia Civil, delegado Allan Turnowski, goza de sua confiança ¿ apesar da operação da Polícia Federal, que prendeu 27 policiais, entre eles o ex-braço direito de Allan ¿ o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que nenhum integrante da cúpula de sua pasta tem carta branca. Em entrevista ao RJ-TV, da TV Globo, Beltrame disse que Turnowski não está garantido no cargo, assim como nenhuma pessoa do alto escalão da secretaria. Para Beltrame, todos precisam ter lisura e resultado:

¿ Quero deixar muito claro para sociedade que nem o doutor Allan nem ninguém que trabalha comigo tem carta branca. Não adianta ter resultado sem lisura e ter lisura sem resultado.

¿Se eu não tivesse lisura, não estaria no meu cargo¿

Beltrame afirmou que tanto Turnowski ou qualquer outra pessoa pode perder o cargo:

¿ Isso pode mudar a qualquer hora. O que o doutor Allan tem comigo são créditos pelo serviço feito.

Ontem, questionado sobre a declaração de Beltrame, o chefe de Polícia Civil disse que nada muda em relação ao que o secretário havia dito na sexta-feira sobre sua conduta:

¿ Se eu não tivesse lisura no meu trabalho, não estaria no meu cargo.

Anteontem, Turnowski disse não haver motivos para deixar o cargo. Ele prestou depoimento aos federais como testemunha contra policiais civis e militares acusados de corrupção e investigados na Operação Guilhotina. Ele disse que, se houvesse alguma prova de sua participação no esquema teria sido preso.

Um dos principais alvos da Operação Guilhotina, o delegado Carlos Antônio Luiz de Oliveira, se entregou, na sexta-feira, à Polícia Federal e foi levado para o presídio Bangu 8. O delegado, que ocupou cargo de subchefe da Polícia Civil, estava foragido. Ele atuava como subsecretário de Operações da Secretaria Especial da Ordem Pública. Após as denúncias, a prefeitura anunciou a sua exoneração.

Disque-Denúncia: 68 ligações sobre desvio de conduta

Na sexta-feira, dois policiais que estavam foragidos se entregaram à PF. O subtenente da PM Marcos Antônio de Carvalho e o inspetor Christiano Gaspar Fernandes são acusados de integrar a quadrilha de Oliveira.

Chefe do setor de investigações da 22ª DP (Penha), Christiano Fernandes chegou a telefonar para o celular da delegada Márcia Beck no momento em que agentes da PF faziam uma devassa na delegacia. Ele é apontado, junto com Oliveira e seu pai, o sargento da reserva da PM Ricardo Afonso Fernandes, como um dos chefes do grupo paramilitar que dominava a favela Roquete Pinto, em Ramos. Ao fim do depoimento, ele foi transferido para Bangu 8.

Com isso, sobe para 37 o número de presos na operação. Por meio de sua assessoria de imprensa, o governador Sérgio Cabral disse que qualquer informação sobre a Operação Guilhotina seria comentada por Beltrame.

Após a Operação Guilhotina, o Disque-Denúncia recebeu 68 ligações sobre desvio de conduta de policiais, além de três denúncias diretas sobre a operação. No mesmo período da semana passada (dias 4 e 5) foram 21 ligações sobre o mesmo crime. O número, após a operação, é mais de três vezes maior do que registrado anteriormente.