Título: Corregedoria investiga denúncias da Draco
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 15/02/2011, Rio, p. 11

Chefe da Polícia Civil disse ter recebido carta anônima com acusações contra policiais

A Corregedoria da Polícia Civil instaurou ontem um inquérito para apurar supostas extorsões contra prefeituras cometidas por policiais da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco). O corregedor Gilson Soares disse no fim da tarde que vai apurar a existência de dois Registros de Aditamento ¿ um que encerra uma investigação e outro que instaura inquérito ¿ com o mesmo número, datados com diferença de dois dias e assinados pelo delegado Cláudio Ferraz, titular da Draco. A Draco, que volta a funcionar hoje, ajudou a Polícia Federal nas investigações da Operação Guilhotina, que levou 30 policiais para a prisão.

A apuração foi determinada pelo chefe de Polícia Civil, Allan Turnowski, que disse ontem ter recebido em sua casa, na noite de domingo, uma carta anônima com um documento sobre a denúncia. A Draco estaria, segundo a carta, exigindo propina para não investigar fraudes em licitações na prefeitura de Rio das Ostras. O documento, que seria original, datado de 16 de agosto de 2008, determinava a instauração de inquérito. Um outro documento, de dois dias depois, foi encontrado ontem na sede da Draco e pedia a suspensão do inquérito. O corregedor quer saber explicações sobre os documentos diferentes:

¿ Me causa estranheza a existência de dois documentos. Se houve extravio, teremos que apurar se há na delegacia algum ofício de extravio.

Delegado diz que denúncias ¿não foram surpresa¿

O procurador-geral de Rio das Ostras, Renato Ferreira de Vasconcelos, confirmou que a Procuradoria do município recebeu ofício assinado por Ferraz, solicitando, em julho de 2008, informações sobre tomadas de preços e concorrências. O procurador afirmou que não houve irregularidades:

¿ Responder a ofícios com pedidos de informações sobre licitações, concorrências e tomadas de preço é rotina. Prova de que não houve irregularidades é que, na ocasião, nem a Draco e nem o TCE instauraram procedimentos de investigação e as contas do município foram aprovadas.

O delegado Cláudio Ferraz disse que as denúncias não foram surpresa e que tinha informações sobre elas, há alguns meses, por meio da imprensa. Na última quinta-feira, ele fora nomeado subsecretário de Contrainteligência e a Draco passou da Polícia Civil para a Secretaria de Segurança. Questionado ontem sobre a correição na Draco, que comandou por quatro anos, Ferraz ¿ que tem o apoio de Beltrame ¿ afirmou que se sentiu constrangido com a situação:

¿ Ele (Turnowski) deve ter lá seus motivos para estar agindo dessa forma. Vou aguardar o resultado para saber efetivamente do que se trata. Se existe alguma rivalidade do chefe comigo, eu desconhecia.

Em entrevista coletiva, Turnowski explicou que a denúncia anônima foi determinante para a decisão de fazer uma devassa na delegacia:

¿ A determinação de fechar a delegacia foi uma solicitação minha ao secretário de Segurança (José Mariano Beltrame), que autorizou.

Durante a vistoria na Draco, Turnowski disse que foram encontrados seis armas sem procedência. Além das armas, o chefe de Polícia Civil disse que recebeu da PF escutas telefônicas dizendo que policiais da Draco recebiam ¿uma merenda¿ para não apurar denúncias da máfia de produtos piratas provenientes de São Paulo.

Turnowski disse que exoneraria Ferraz se pudesse. No entanto, o delegado está subordinado, desde ontem, à Secretaria de Segurança. O chefe de Polícia acrescentou que essa ação não é uma represália à Draco, por ter colaborado com a Operação Guilhotina:

¿ Não é represália. Minha relação com o doutor Ferraz é a melhor possível. Este é o início de um processo de limpeza na polícia e eu mesmo vou começar a fazer essa limpeza.