Título: Novo gigante de etanol
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 15/02/2011, Economia, p. 17

Shell e Cosan criam a Raízen, com valor de mercado de US$12 bi. Marca Esso desaparece

Raízen, nome criado a partir da junção das palavras "raiz" e "energia", é a nova marca escolhida pela brasileira Cosan e pela anglo-holandesa Shell para abrigar os negócios da joint-venture formada em agosto do ano passado pelas duas companhias. Anunciada ontem como uma nova etapa da parceria entre duas das maiores produtoras de álcool e petróleo do mundo, a empresa nasce com valor de mercado estimado em US$12 bilhões (cerca de R$21,6 bilhões) e faturamento anual de R$50 bilhões. Segundo a empresa, é o o quinto maior faturamento entre as organizações com sede no Brasil. Com a união concretizada, nasce também a terceira maior distribuidora de combustíveis do país, atrás apenas da BR Distribuidora, da Petrobras, e do grupo Ultra.

Com a criação da empresa, as marcas Shell e Cosan vão continuar existindo, mas a Esso, adquirida em 2008 e responsável pela distribuição de combustíveis da Cosan, será substituída pela bandeira Shell em um prazo de 36 meses. A Esso (ExxonMobil) está no Brasil desde 1912. A Cosan informou que vai manter a divisão de distribuição de lubrificantes e alimentos, segmento que inclui as marcas União e da Barra. Já a Shell mantém o setor de exploração de petróleo.

- Nascemos grandes e queremos ser ainda maiores. A Raízen terá porte, talento, recursos e tecnologia para atender às necessidades de nossos clientes - disse, em entrevista coletiva ontem para anunciar a Raízen, Vasco Dias, ex-presidente da Shell no Brasil e o escolhido pelos acionistas para ser o presidente da nova companhia.

Com um patrimônio que inclui 4.500 postos (das bandeiras Shell e Esso), 550 lojas, mais de cem terminais em portos e aeroportos e 24 usinas de álcool e açúcar, a Raízen nasce também com o objetivo de conquistar compradores para o combustível brasileiro no mercado americano. No ano passado, 16% do total exportado pelo setor, cerca de 248 mil toneladas, tiveram como destino os Estados Unidos, e renderam US$186 milhões aos produtores. A Europa e a Ásia, continentes onde a Shell está presente com cerca de 45 mil pontos de venda, também serão prioridade na estratégia internacional.

- Queremos aproveitar a força da Shell para ampliar o mercado do etanol nos Estados Unidos. Com esse lobby, vamos aumentar a penetração do etanol lá fora - disse Rubens Ometto, presidente do conselho da nova empresa e do grupo Cosan. - Eles (a Shell) têm credibilidade e força política para mostrar ao mundo os benefícios do etanol.

Pela estrutura de capital da Raízen, Shell e Cosan têm, cada uma, 50% das ações. Também serão criadas mais duas empresas: uma concentrada em açúcar e etanol, que terá a Cosan com 51% das ações com direito a voto; e outra para distribuição de combustíveis, da qual a Shell deterá 51% dos papéis com direito a voto e a Cosan, 49%. Da dívida acumulada pelas duas empresas, cerca de US$2,5 bilhões foram absorvidos pela Raízen.

Segundo informou a companhia, como a Shell fez um aporte de US$1,6 bilhão na Raízen, a situação financeira da nova empresa melhorou bastante, e deve ficar melhor. De acordo com o diretor-executivo da companhia, Luís Rapparini, já há estudos avançados para uma primeira emissão de títulos de renda fixa no mercado, incluindo contatos com bancos e agências internacionais de classificação de risco (que atribuem notas aos papéis lançados, que são referências para o investidor estrangeiro). A ideia é estender os prazos da dívida e ganhar fôlego para realizar os investimentos necessários.

- A Raízen será uma empresa independente (de Shell e Cosan) e vai ao mercado buscar os recursos necessários - disse Rapparini.

Plano é dobrar produção nos próximos cinco anos

Com 40 mil funcionários em suas 24 usinas espalhadas pelo país, a Raízen também tem planos ambiciosos para alcançar seu principal objetivo de consolidar o combustível etanol como commodity internacional. Para isso, foi definido e aprovado na empresa um plano de investimentos nos próximos cinco anos para aumentar capacidade de moagem de cana-de-açúcar das atuais 62 milhões de toneladas para 100 milhões de toneladas, e dobrar a produção de etanol de 2,2 bilhões de litros para 5 bilhões de litros por ano. Na geração de energia, a meta é de sair dos atuais 900 megawatts (MW) para 1.300 MW. A companhia não divulgou o valor dos investimentos nem quanto pretende captar no mercado de títulos.

Também farão parte do portfólio da Raízen a Logen e a Codexis, empresas de biotecnologia e de produção de biocatalizadores, que têm participação da Shell, mas que agora passam para a nova empresa. A meta, de acordo com Dias, é acelerar as pesquisas com etanol de segunda geração, usando o bagaço de cana como matéria-prima.