Título: Países árabes tentam desarticular protestos
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Fonte: O Globo, 14/02/2011, O Mundo, p. 26

Iêmen, Argélia, Irã e Bahrein usam estratégias como paralisação de transportes, gratificação e uso da polícia

EM ARGEL, policiais contêm manifestantes: argelinos prometeram organizar uma manifestação por semana

NO IÊMEN, opositores marcham em direção ao palácio presidencial. Polícia usou violência para conter os maiores protestos até agora contra o governo

ARGEL E SANAA. Ameaças, repressão policial e até distribuição de gratificações são as formas como diferentes nações árabes estão lidando com o fantasma da rebelião popular. Na capital do Iêmen, Sanaa, a polícia agrediu um grupo de civis que tentou chegar perto do palácio presidencial, ontem. Em Argel, na Argélia, o governo paralisou transportes públicos e botou cerca de 30 mil policiais nas ruas para desarticular uma marcha de protesto.

No Irã, o governo faz ameaças a opositores que organizam manifestações, mas uma está marcada para acontecer hoje, apesar da intimidação. No Bahrein, o monarca Hamad bin Isa al-Khalifa anunciou que dará uma bolsa de cerca de 2.000 (R$4.515) a cada família do seu país. Antes de essa medida ter sido anunciada, a oposição local convocara uma manifestação para hoje, décimo aniversário da Constituição nacional.

Os participantes do maior protesto contra o governo iemenita, ontem, enfrentaram a polícia ao se verem impedidos de marchar até o palácio presidencial em Sanaa.

O confronto ocorreu num momento em que o presidente Ali Abdullah Saleh e o principal grupo de oposição estavam se preparando para travar um diálogo, encarado pelo governo como uma forma de evitar uma revolta ao estilo egípcio nesse país da Península Árabe que é um aliado importante dos EUA contra a al-Qaeda.

Cerca de mil pessoas participaram do protesto, gritando frases como ¿o povo iemenita quer a queda do regime¿ e ¿revolução iemenita depois da revolução egípcia¿, até que algumas dezenas tomaram o rumo do palácio. As forças policiais, que bloqueavam o acesso à residência presidencial, reprimiram o pequeno grupo com violência, usando porretes, enquanto os civis revidavam com pedras. Quatro pessoas ficaram feridas. Foi o episódio mais grave registrado na capital até agora, desde que começou a agitação popular.

Uma série de manifestações tem proliferado nas últimas semanas no Iêmen, estimuladas por movimentos semelhantes na Tunísia e no Egito. O clima de rebelião já fez com que Saleh prometesse deixar o poder em 2013, numa tentativa de acalmar o povo.

Muitos protestos em Sanaa ¿ incluindo o chamado ¿Dia de fúria¿, em 3 de fevereiro, que reuniu dezenas de milhares de opositores e aliados do governo ¿ terminaram pacificamente. Embora manifestantes a favor e contra o governo tenham tido embates nos últimos dias, a polícia de Sanaa vinha se mantendo fora da briga. Contudo, casos de repressão policial brutal eram registrados fora da capital.

Representantes da oposição disseram que dez manifestantes foram detidos em Sanaa ontem e outros 120 foram presos na cidade de Taiz, após protestos no sábado.

Na Argélia, grupos de oposição que fizeram protestos nesse fim de semana declararam, ontem, que, até conseguirem mudar o governo, realizarão uma manifestação todo sábado na capital, Argel. Inspirados pela insurgência popular na Tunísia e no Egito, cerca de 2 mil manifestantes argelinos desafiaram uma proibição da polícia e fizeram um protesto no sábado, naquela cidade. No entanto, o aparato de milhares de policiais conseguiu impedir uma marcha que atravessaria Argel. A aglomeração na Praça Primeiro de Maio não foi maior graças a táticas do Ministério do Interior, que paralisou a cidade, tirando ônibus, trens e táxis de circulação e interditando ruas.

No Irã, a oposição reiterou, ontem, a convocação de uma mobilização em apoio aos manifestantes da Tunísia e do Egito, apesar de o governo ter alertado que haverá consequencias caso essa ação seja realizada. Num pronunciamento veiculado no site Kaleme.com, a oposição conclamou seus partidários a participar de uma manifestação hoje, no centro de Teerã, e acusou o governo de hipocrisia por ter manifestado apoio às insurgências no Egito e na Tunísia ao mesmo tempo em que não deixa ativistas políticos de seu próprio país organizarem uma manifestação pacífica.