Título: Cabral garante que Beltrame tem 100% de autonomia para chefiar segurança pública
Autor: Werneck, Antônio; Araújo, Vera
Fonte: O Globo, 16/02/2011, Rio, p. 13

Governador afirmou que não ia interferir na substituição do delegado Allan Turnowski

SÃO PAULO e RIO. Depois de quatro dias de silêncio, o governador Sérgio Cabral falou ontem sobre a crise na segurança pública. Ele elogiou Allan Turnowski, afastado da Cheia de Polícia Civil, e disse que o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, tinha autonomia para escolher o novo ocupante do posto - a delegada Martha Rocha ainda não tinha sido designada para o cargo. Cabral, porém, evitou comentar os detalhes da crise, frisando que o assunto é de responsabilidade de Beltrame.

- Quero agradecer publicamente ao delegado Allan Turnowski, assim como agradeci ao delegado Gilberto Ribeiro, que foi primeiro chefe de Polícia Civil (do seu governo). O delegado Gilberto Ribeiro e o delegado Alan Turnowski deram enormes contribuições à nossa política de segurança - disse Cabral, depois de participar de uma conferência para investidores em São Paulo.

Perguntado sobre a possibilidade do envolvimento de Turnowski em irregularidades, Cabral foi evasivo:

- Esse é um assunto de segurança pública, tratado sob o comando do secretário José Mariano Beltrame.

O governador garantiu ainda que não ia interferir na escolha do novo chefe de Polícia Civil e que Beltrame tem "100% de autonomia" para conduzir a segurança pública.

- No Rio de Janeiro, graças a Deus, acabou a fase em que o Palácio Guanabara participava ou permitia que outros políticos se intrometessem na política de segurança pública. Na escolha de comandantes de batalhão, de delegados, na promoção por mérito de policiais e na escolha do comandante da PM e do chefe da Polícia Civil, a decisão é do secretário Beltrame. Ele tem o meu aval.

Mais uma vez, governador estava ausente num momento de crise

Que o governador Sérgio Cabral gosta de viajar, seja a trabalho ou a lazer, até as colunas do Palácio Guanabara já sabem. Mas o que vem se confirmando nos últimos anos é a coincidência de sua ausência toda vez que o governo passa por alguma crise. Desta vez, Cabral estava fora do Rio após a Operação Guilhotina da Polícia Federal, realizada na sexta feira e que acabou desencadeando a troca de comando na Chefia de Polícia Civil.

Oficialmente, a assessoria do governador informou que ele passou o fim de semana em casa, no Leblon, tratando-se de uma intoxicação alimentar. Mas fontes próximas a Cabral garantem que, mais uma vez, ele estava viajando. O governador só retornou ao Rio anteontem, quando se reuniu com o secretário José Mariano Beltrame, para tratar da crise na polícia.

Um dos momentos mais difíceis do governo ocorreu em janeiro, quando as chuvas destruíram cidades da Região Serrana, matando mais 800 pessoas. Na época, o governador também estava fora, em viagem pela Europa, e só pôde visitar os municípios atingidos dois dias depois. Outro caso aconteceu na enxurrada que destruiu casas e fez vítimas na virada do ano para 2010, em Angra dos Reis: o governador só apareceu dois dias depois. Na época, ele negou as especulações de que estivesse fora do Rio.

Tanto nesta como em outras ocasiões, o vice-governador Luiz Fernando Pezão teve que gerenciar as crises. Em março de 2008, quando o governador viajou para o Japão e a Coreia do Sul, eclodiu a epidemia de dengue no Rio de Janeiro. Em junho daquele mesmo ano, Pezão estava no exercício quando foi divulgada a informação de que jornalistas de "O Dia" tinham sido torturados numa favela da Zona Oeste.

Até mesmo problemas partidários ocorreram durante a ausência de Cabral. A aliança PMDB-PT para concorrer à prefeitura do Rio em 2008 foi rompida durante uma viagem do governador ao exterior na companhia do então secretário de Turismo e hoje prefeito do Rio, Eduardo Paes.