Título: Da cúpula para o rol de suspeitos
Autor: Werneck, Antônio; Araújo, Vera
Fonte: O Globo, 16/02/2011, Rio, p. 13

Allan Turnowski cai da Chefia de Polícia e deve ser indiciado por vazamento de informação

Afastado do comando da Polícia Civil depois de uma tensa negociação ¿ envolvendo até mesmo o governador Sérgio Cabral ¿, que começou na noite de segunda-feira, durou toda a madrugada e terminou ontem com comunicados oficiais, o delegado Allan Turnowski deverá ser indiciado hoje pela Polícia Federal, por suspeita de vazamento de informação. Ele teria sido flagrado em grampos telefônicos alertando o inspetor Christiano Gaspar Fernandes sobre uma investigação da PF. Turnowski já foi informado pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, de que precisará prestar novos esclarecimentos aos agentes no Rio.

A conversa interceptada por policiais federais teria acontecido no ano passado, depois de a PF chegar a um informante que trabalhava na Delegacia de Combate às Drogas (Dcod). Allan teria dito a seu subordinado para ficar atento, porque a PF preparava uma operação. Um dos alvos do inquérito, Christiano acabou preso. Com passagem pela Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae), o policial civil estava lotado na 22ª DP (Penha). Na sexta-feira passada, quando a Operação Guilhotina foi deflagrada pela PF, a delegacia foi fechada durante duas horas para o cumprimento de mandados de busca e apreensão. Armas, munição, celulares e documentos foram recolhidos e estão sendo analisados.

A principal acusação contra Christiano é de envolvimento, ao lado do pai, um PM reformado, numa milícia que domina as favelas Roquete Pinto e Borgauto, em Ramos. Os milicianos são suspeitos de assassinatos, cobrança de até 30% de taxas em transações imobiliárias, monopólio do fornecimento de gás e venda de sinal ilegal de TV por assinatura. Christiano, ainda segundo a PF, também participava de um grupo de policiais e informantes acusado de saquear bens de traficantes em operações em morros.

Traficante é flagrado repreendendo policial

Turnowski, que nega qualquer envolvimento no esquema, está sendo acusado de receber propina da máfia dos caça-níqueis e de uma quadrilha de contrabandistas que atuaria no comércio de produtos piratas no Centro. Em depoimento na sexta-feira, ele desqualificou as denúncias, feitas por uma testemunha ouvida pela PF. Ao todo, 45 pessoas tiveram a prisão decretada pela Justiça, entre elas o delegado Carlos Oliveira, ex-subchefe Operacional da Polícia Civil e braço direito de Turnowski. A PF investiga outros delegados, que podem ser presos a qualquer momento.

A PF, com o apoio da Secretaria de Segurança e do Ministério Público estadual, identificou um grupo de policiais civis e militares envolvido com roubos de bens de traficantes na recente ocupação de favelas de Santa Teresa e do Complexo de São Carlos. Numa das interceptações telefônicas, um policial, que receberia propina de um bandido, leva uma bronca de um traficante e acaba sugerindo que o criminoso atire nos colegas policiais:

¿ Então faça o que tem fazer.

Sobre a saída de Turnowski, Beltrame disse que houve alguns exageros nos últimos dias, mas elogiou o trabalho do ex-chefe de Polícia.

Turnowski não quis comentar sua saída do cargo. Ele esteve ontem na Chefia de Polícia Civil para esvaziar as gavetas. Os delegados de sua equipe fizeram uma festa de despedida para o antigo chefe.

A escolha de Martha Rocha para substituir Turnowski foi bem recebida. No início da tarde, antes do anúncio da nova ocupante do cargo, todos comentavam que haveria um boicote dos delegados ao novo chefe. Quando o nome de Marta foi anunciado, os ânimos se acalmaram.