Título: Rio tem sua primeira chefe de Polícia Civil
Autor: Costa, Ana Claudia; Araújo, Vera
Fonte: O Globo, 16/02/2011, Rio, p. 14

FAXINA NA POLÍCIA: Nomeada começou sua carreira como escrivã em 1983 e conseguiu se tornar delegada em 1990

Ao ser anunciada no novo cargo, Martha Rocha prometeu reforçar a corregedoria e a Academia de Polícia Na onda da presidente Dilma Rousseff, a nova chefe ou chefa de Polícia Civil é a delegada Martha Mesquita da Rocha, de 51 anos. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, escolheu Martha, a primeira mulher a comandar cerca de 12 mil policiais, para aplacar a crise na instituição. Em maio de 1993, a delegada passou por situação semelhante, quando assumiu o cargo de diretora do antigo Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), no lugar do delegado Élson Campello, acusado à época de enriquecimento ilícito. Por conhecer bem a polícia, pois entrou na instituição, por concurso como escrivã, em 1983 e é delegada desde 1990, ela disse ontem que pretende fortalecer a Corregedoria Interna de Polícia Civil:

- Temos que ter uma corregedoria forte, porque o bom policial não teme a corregedoria forte. Ele deseja uma corregedoria forte - disse a chefe de Polícia Civil, que será exonerada hoje do cargo de coordenadora das Delegacias de Atendimento à Mulher.

Beltrame: nome de Martha foi unanimidade

Beltrame, porém, negou que o gênero tivesse pesado na escolha de Martha:

- Ela não assume o cargo por ser mulher, mas por uma história de 27 anos na polícia. Seu nome foi uma unanimidade

Outra crise enfrentada por Martha aconteceu em novembro de 1993, quando ainda ocupava a direção do DGPE. Naquele período, a cúpula da polícia foi acusada de receber propina de bicheiros. Eram 14 policiais civis, incluindo 11 delegados, um deles o chefe de gabinete de Martha, o delegado Inaldo Júlio Santana, homem de confiança da então diretora do DGPE, com quem mantinha um relacionamento amoroso. Este fato lhe causou constrangimento, mas ela permaneceu no cargo. Ela era tida como amiga de Nilo Batista, então governador do estado. Em abril de 1994, ela foi indicada por ele ao cargo de corregedora interna da Polícia Civil.

À primeira vista, Martha aparenta ser uma mulher de fala doce e gentil, mas por várias vezes demonstrou determinação em suas ações. Em 2000, Martha era titular da 15ª DP (Gávea), responsável pelas investigações do sequestro do ônibus 174, que teve a morte de uma refém e de um sequestrador, no Jardim Botânico. Ela indiciou o comandante do Bope, José Penteado, à época, por homicídio culposo. Em seguida, a delegada foi exonerada e transferida pela 16ª DP (Barra da Tijuca). Em entrevista na ocasião, ela não quis comentar e disse se tratar de uma transferência de rotina.

Ontem, ela foi apresentada pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, como alguém que "veio quebrar paradigmas", começando pelo fato de ser a primeira mulher a ocupar o cargo de chefe de Polícia. Discreta, a delegada só se sentiu constrangida no momento em que os fotógrafos pediram que ela se aproximasse de Beltrame, na hora de posar para fotos.

- Temos que ter uma polícia bem treinada e qualificada. Por isso, temos que ter uma boa academia. Eu acho que o secretário disse, com muita felicidade, que não bastam bons resultados, mas sim outros ingredientes. Temos que trabalhar com lisura e bons resultados. Com a chegada do secretário José Mariano Beltrame, passamos a trabalhar com metas e projetos - disse ela.

Martha foi a primeira mulher a comandar a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam). Além de nome, Martha Rocha tem em comum com a miss a vaidade. Ela costuma sempre estar bem-vestida, geralmente, com saia ou tailleur. Ontem, ela foi flagrada ajeitando o cabelo para dar entrevistas:

- Quero confessar que nunca me vi chefe de Polícia Civil. Portanto, não tenho no bolso do colete nem dentro da bolsa a equipe formada. - concluiu ela.