Título: Moreira Franco promete tirar viés político do Ipea e mantém equipe
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 16/02/2011, Economia, p. 22

Ministro afirma querer que instituto volte a ter reconhecimento acadêmico

BRASÍLIA. A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República quer desfazer as intrigas que cercam o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e fortalecer o papel da instituição no atual governo. Em conversa com O GLOBO, o ministro da pasta, Wellington Moreira Franco, afirmou ontem esperar que o Ipea "volte a ter o mesmo reconhecimento". Trata-se de uma alusão às críticas de que o instituto vinha atuando de forma politizada nos últimos anos, buscando endossar as políticas do governo Lula, após o comando da instituição ser assumido, em 2007, pelo economista Marcio Pochmann - que se manterá na presidência, até segunda ordem.

Pochmann foi recebido ontem por Moreira Franco, que exigiu que o Ipea retenha seus quadros para garantir que seus funcionários altamente qualificados permanecerão trabalhando em prol da própria instituição e não de outros órgãos. Sem uma política clara de cessão de funcionários, o Ipea tem perdido nomes importantes nos últimos anos e ainda parece estar sujeito a ingerências políticas ao permitir - ou não - que um integrante da Casa seja cedido para este ou aquele poder.

Moreira: "Produção intelectual exige o contraditório"

Moreira Franco defende o exercício do contraditório na pesquisa acadêmica, alertando que, sem isso, a produção é apenas ideologia. O ministro destacou que um dos maiores ativos do Ipea é justamente a liberdade de pensamento, o que teria levado o instituto a ser o primeiro a discutir, durante o regime militar, em pleno milagre econômico, o processo de concentração de renda no país.

- A produção intelectual exige o contraditório. Sem ele, o que existe é ideologia - disse Moreira Franco ao GLOBO.

Desvinculado do Ministério do Planejamento em agosto de 2007 e levado para a então Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, de Mangabeira Unger, o Ipea está, hoje, sob o guarda-chuva da SAE. E assim deve permanecer.

Cuidadoso com as palavras, o ministro afirma que o Ipea não está sujeito a disputas políticas, que só prejudicam e enfraquecem a imagem da instituição. Desde que Moreira Franco assumiu a SAE, especula-se quem iria para o lugar de Marcio Pochman e como o Ipea seguiria com o seu trabalho.

- Eu nunca disse que ele sairia. É importante deixar o Ipea trabalhar em paz - afirmou Moreira Franco.

Dentro do governo, especulava-se que a SAE não compraria uma briga trocando o comando do Ipea. Mas, reservadamente, os técnicos da instituição torciam pela substituição de Pochmann. Chegou-se a imaginar que, ao chamar para a secretaria dois nomes de peso do Ipea-Rio, Moreira Franco estaria selecionando alguns dos melhores quadros e enfraquecendo a instituição como um todo.

Especialista em pobreza, o ex-diretor do Ipea Ricardo Paes de Barros será o subsecretário de Assuntos Estratégicos. Ex-diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, o economista Eustáquio Reis também será puxado para a SAE, em Brasília.

Segundo o ministro, a opção por estes dois nomes nada mais é do que o reconhecimento do respeito que tem pela instituição de pesquisa. Disse também que isso é a prova de que as trocas com o instituto serão cada vez mais intensas.

Moreira Franco, que conhece Pochmann há muito anos, disse ter grande admiração pelo trabalho acadêmico do presidente do Ipea. O ministro diz que o instituto tem papel-chave no governo da presidente Dilma Rousseff, ainda mais depois de ela ter deixado claro que quer que o Brasil seja a quinta economia do mundo em seu mandato:

- O Ipea tem que ser reconhecido pelos ministérios que executam políticas públicas como um grande celeiro de pessoas qualificadas para formular e avaliar estas políticas públicas. Quero que ele volte a ter o mesmo reconhecimento.

Três das sete diretorias do Ipea estão vagas

Atualmente, das sete diretorias do Ipea, três estão vagas: Desenvolvimento Institucional, Estudos Regionais e Urbanos e Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais. A escolha dos novos nomes será feita por Pochmann, em parceria com Moreira Franco.

Um quarto diretor, José Celso Cardoso (Estudos e Políticas do Estado), que pretendia se afastar para tirar licença para capacitação, deve permanecer no cargo a pedido de Pochmann. Dentro da instituição, com o excesso de pedidos de cessão de funcionários, via-se nas dificuldades de se liberarem técnicos um instrumento de conflitos entre posições partidárias.

- Esse ambiente causa estranheza. Não há nada disso - garantiu Moreira Franco.

Desde 1998, os funcionários do Ipea não estão mais regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Isso, segundo o ministro, é mais uma razão para que o instituto tenha quadros que trabalhem para o desenvolvimento da própria cultura da instituição.

Nos últimos anos, o Ipea não tem sido poupado de críticas de especialistas do meio acadêmico. O início da presidência de Pochmann foi marcado pela decisão polêmica de afastar, ainda no fim de 2007, quatro economistas da instituição: Fabio Giambiagi, Gervásio Rezende, Régis Bonelli e Otávio Tourinho. Falava-se à época de ideologização e aparelhamento do instituto, o que teria gerado desânimo entre os funcionários da Casa. A mudança de alguns critérios do concurso de ingresso de novos técnicos em dezembro de 2008 também foi alvo de críticas. A instituição foi acusada de politizar questões das provas em detrimento dos tradicionais critérios técnicos.