Título: Pelo mínimo, a troca de papéis
Autor: Jungblut, Cristiane; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 17/02/2011, O País, p. 3

Sindicalistas vaiam petistas e aplaudem a oposição

BRASÍLIA. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), ex-presidente da União Democrática Ruralista (UDR), aclamado no plenário por sindicalistas? O ex-presidente da CUT, deputado Vicente de Paula, o Vicentinho (PT-SP), sorrindo amarelo diante das vaias das galerias lotadas de manifestantes das centrais sindicais? Sim, isso aconteceu ontem no plenário da Câmara quando deputados da oposição ficaram lado a lado com os trabalhadores por um mínimo de R$560, e os petistas amargaram a defesa impopular do salário mínimo de R$545 do Planalto.

A fala do eterno inimigo das esquerdas, Ronaldo Caiado, foi muito aplaudida pelas galerias. O mesmo paradoxo continuou em outras falas na tribuna, com os sindicalistas, em sua maioria da Força Sindical e de centrais menores, aplaudindo deputados da oposição (DEM e PSDB) e que defendiam valores maiores que R$545 e vaiando parlamentares, sobretudo do PT.

Relator do projeto do governo, Vicentinho foi o mais vaiado pelos sindicalistas. Os parlamentares ficaram incomodados com as vaias e em certo momento os manifestantes deram as costas para os governistas. O grupo repetiu as vaias após os deputados rejeitarem a emenda do PSDB que previa o mínimo de R$600. Poucos sindicalistas da CUT apareceram após a fala de Vicentinho.

Ao comentar as vaias recebidas, Vicentinho disse que o movimento sindical acabará aplaudindo a proposta do governo, já que em 2012 o mínimo valerá R$616.

- A CUT não está lá (nas galerias). Esse povo nunca me apoiou para nada - reagiu Vicentinho.

Vicentinho afirmou que, em conversa com dirigentes da CUT, todos concordaram que ele deveria aceitar o cargo de relator.

Já o deputado Caiado disse não ter se deslumbrado com os aplausos dos sindicalistas:

- Essas coisas não mexem comigo, não me anestesiam. Não sou muito de me vangloriar e já provei dos dois lados.

Foram igualmente aplaudidos o líder do DEM, ACM Neto (BA), e o deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS), quando exibiu, da tribuna, uma foto antiga mostrando o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, e outros petistas, fazendo um gesto com os dedos para dizer que era "desse tamaninho" o reajuste de R$15 ao mínimo, no governo Fernando Henrique em 2002.

As vaias e aplausos irritaram os parlamentares que defendiam os R$545. Enquanto a vice-presidente, Rose de Freitas (PMDB-ES), comandava a sessão, houve uma reação mais irritada de um dos deputados, afirmando que o plenário não era "a casa da mãe Joana". O líder do PSOL, deputado Chico Alencar (RJ), ressaltou que a CUT, fundada por dirigentes petistas como o ex-presidente Lula, não estava na Câmara.

- Onde está a CUT? -- ironizou Chico Alencar.

Desde a manhã, um grupo com 50 manifestantes, vestidos de terno e gravata, fez barulho. Todos com bonés e faixas da Força Sindical. Enquanto deputados davam entrevistas no Salão Verde, entre eles o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), eles cantavam marchinhas de carnaval, cobrando o aumento.