Título: Tenho que desencarnar. É difícil, diz ex-presidente
Autor: Kotscho, Ricardo
Fonte: O Globo, 17/02/2011, O País, p. 9

No Rio, Lula participou de encontros

Em sua primeira visita ao Rio após deixar a Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva voltou ontem à cidade, onde ficará até amanhã, para uma série de encontros. Ele se reuniu no hotel Sofitel, em Copacabana, na Zona Sul, com o presidente do IBGE, Eduardo Nunes e com o economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), além do compositor Chico Buarque. Bem-humorado, o ex-presidente afirmou que ainda precisa "desencarnar da Presidência".

- Eu não defini ainda o que quero fazer. Tenho dito que, primeiro, tenho que desencarnar. É difícil. Quando um governante sai da Presidência com o povo escrevendo faixas na rua "fora fulano", "fora beltrano", ele (o governante) esquece logo. Mas, quando você sai com 90% (de aprovação), é muito difícil, porque a população está muito presente. Faz pouco tempo ainda. Estou tranquilo. Vou tomar muito cuidado para não dar nenhum passo errado, para fazer as coisas bem feitas. Tenho todo o tempo da vida pela frente - declarou Lula, ao chegar ao hotel, onde a diária custa entre R$2.785 e R$9.347.

Acompanhado por dois seguranças, assessores e pelo ex-presidente do Sebrae Paulo Okamoto, Lula também esteve com o ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência Luiz Dulci. Lula negou que os encontros tenham a ver com a criação do Instituto Lula. O ex-presidente revelou que poderá marcar presença nos desfiles das escolas de samba no Rio, mas isso dependerá do estado de saúde do ex-vice-presidente José Alencar.

Perguntado sobre o aumento do salário mínimo, Lula desconversou:

- Política, só depois do carnaval, quando eu sair da quarentena.

Após reunião, Marcelo Neri disse que apresentou a Lula indicadores de pobreza e desigualdade social. Segundo o economista, o ex-presidente confidenciou ter vivido, em 2004, situação parecida com a da presidente Dilma Rousseff, em relação ao valor do aumento do mínimo, devido aos cortes feitos em 2003. Para Lula, disse Neri, "o ajuste foi tão forte quanto o de Dilma", de R$50 bilhões.

Já Chico Buarque não quis dar detalhes da conversa. Disse apenas ter tratado de amenidades e que ficou de marcar um jogo de futebol com Lula. O ex-presidente também jantou com o o governador Sérgio Cabral.