Título: Rombo de 4,3 bi e sem patrimônio
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 17/02/2011, Economia, p. 21

PanAmericano, ex-banco de Silvio Santos, tem só R$197 milhões e nega desvio

Mesmo com o socorro bilionário que recebeu do Fundo Garantidor de Crédito (FGC, entidade privada mantida pelos bancos, que emprestou R$3,8 bilhões para cobrir os rombos descobertos em suas contas), o banco PanAmericano saiu quase sem patrimônio da crise gerada pela gestão de seu ex-controlador, o empresário Silvio Santos. Em balanço atípico divulgado ontem - em vez de dados trimestrais, exigidos por lei, a nova direção do banco apresentou apenas informações de novembro e dezembro, omitindo o mês de outubro - o patrimônio líquido do PanAmericano resumia-se a R$197 milhões, uma fração do R$1,35 bilhão que ostentava em setembro de 2010. O rombo, estimado em R$3,8 bilhões até janeiro, também cresceu, chegando a R$4,3 bilhões.

Alegando falta de consistência nas informações da administração anterior - os balanços eram "peças de ficção", nas palavras de uma fonte do Banco Central -, Celso Antunes da Costa, o novo diretor superintendente do banco, optou por um "balanço de abertura" restrito a dezembro, como se a instituição não existisse antes. E embora tenha contratado R$1 bilhão em novas operações de crédito naquele mês, o resultado do banco foi um prejuízo de R$133,6 milhões.

Segundo Costa, as manipulações perpetradas pelos ex-gestores do PanAmericano eram sofisticadas, uma "obra de inteligência operado por uma minoria". Não há indícios, porém, de desvios de recursos do banco.

- Só uma minoria tinha conhecimento (das fraudes) e o trabalho era feito com inteligência. Havia poucas pessoas fora da diretoria que sabiam e todas já foram substituídas - contou Costa.

Com a troca de diretoria, cerca de 40 funcionários do foram afastados, por algum tipo de envolvimento nas fraudes, desde novembro. Os oito novos executivos do banco foram indicados pela Caixa Econômica Federal (CEF), que comprou 36% do capital do PanAmericano pouco antes da descoberta dos problemas. Toda a diretoria anterior foi substituída por imposição do BC. Foi o BC também que determinou a saída de Silvio Santos, que já havia dado suas empresas como garantia do primeiro empréstimo do FGC, de R$2,5 bilhões, depois da descoberta de um novo rombo de R$1,3 bilhão no mês passado.

- Conhecido como uma das grandes financeiras do mercado, o PanAmericano tem hoje patrimônio de um pequena financeira - diz Luiz Miguel Santacreu, da Austin Rating.

A drástica perda de patrimônio deixou o PanAmericano com nível de capital abaixo do mínimo exigido pelo Banco Central. Em vez de um patrimônio líquido de pelo menos 11% dos ativos em carteira, o PanAmericano fechou dezembro com 4,7%. Com isso, a Caixa e o BTG Pactual, que no fim de janeiro comprou de Silvio Santos o controle do banco, têm de injetar imediatamente recursos no banco. A CEF se comprometeu a repassar até R$10 bilhões ao PanAmericano, e o BTG Pactual, outros R$4 bilhões, via empréstimos interbancários e compra de carteiras de crédito. De acordo com uma fonte do BC, esse ajuste já está em curso.

"Apurações vão ter consequência grave"

O fato de não divulgar o balanço trimestral deixou os analistas sem saber como os recursos aportados pelo FGC foram aplicados.

- O passado estava ruim, o futuro está resolvido, mas não está claro como isso foi feito contabilmente - observou Santacreu, da Austin.

A complexidade do esquema de fraudes do PanAmericano sequer permite determinar quando as manipulações começaram, disse Costa. Fontes da área econômica reconhecem que a forma como o caso está sendo conduzido é "excepcional". Questionada sobre o balanço apresentado pelo banco, a Comissão de Valores Imobiliários (CVM) informou que "está analisando e investigando os assuntos relacionados ao Panamericano que estão dentro de sua esfera de competência", inclusive "a avaliação da alegada impossibilidade de determinar o efeito acumulado dos erros identificados em data anterior a 30 de novembro na elaboração das demonstrações financeiras".

De acordo com Costa, a gestão do banco de Silvio Santos não era transparente. E, para captar recursos, o PanAmericano pagava juros muito maiores que os concorrentes, além de desembolsar comissões altíssimas aos parceiros comerciais. Além de dois processos administrativos no BC, a Polícia Federal conduz inquérito para apurar os desvios no banco.

- Por tudo que temos até aqui, as apurações resultarão em consequências graves a quem causou os problemas no banco - diz um graduado funcionário do BC.

Convidados de um evento do BTG Pactual, ontem em São Paulo, tanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a presidente da Caixa, Maria Fernanda Coelho, não quiseram comentar os resultados do banco.