Título: Depois da vitória, a hora do castigo: aos aliados infiéis, a geladeira
Autor: Braga, Isabel ; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 18/02/2011, O País, p. 4

O TESTE DO MÍNIMO

PDT e PT terão que explicar os votos contrários ao mínimo de R$545

BRASÍLIA. Nem mesmo a vitória folgada de Dilma Rousseff na votação do salário mínimo de R$545 foi capaz de aplacar a ira do Planalto com as defecções registradas no PDT e no PT. A ordem é punição "educativa" aos infiéis. O PDT será colocado na geladeira e o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, será chamado a se explicar. No PT, sofrerão consequências não só os que votaram a favor das emendas que aumentavam o salário, mas também os que se ausentaram da votação.

Depois que nove dos 27 deputados da bancada pedetista votaram contra o mínimo de R$545, além de uma abstenção, a estratégia palaciana é deixar passar a votação no Senado para depois tomar providências. Na sequência, o ministro do Trabalho e presidente licenciado do PDT, Carlos Lupi, será chamado ao Planalto para dar explicações.

O líder pedetista, deputado Giovanni Queiroz (PA), reagiu às ameaças de deixar o partido na geladeira. Segundo ele, se o Planalto verbalizar essa posição, o ministro Carlos Lupi deve deixar o cargo, e o partido, a base do governo:

- Se o governo ameaçar o Lupi com atraso nas nomeações, ele deve entregar o cargo e o partido sair do governo. Duvido que o Lupi aceite esse tratamento. Acho que o governo é grande e ameaça é coisa de gente pequena. No governo Lula, não havia retaliação. Se a Dilma fosse a líder do PDT estaria indignada porque só nove deputados votaram a favor dos trabalhadores.

Avaliação feita ontem no Planalto indicava dois tipos de tratamento para os rebeldes da votação do mínimo: um para os dissidentes individuais dos partidos e outro para o PDT. O inconformismo palaciano se deve ao fato de a bancada pedetista ter aberto uma dissidência quando o líder, deputado Giovanni Queiroz, decidiu liberar os 27 deputados no encaminhamento da votação. O governo está extremamente incomodado com o comportamento "tímido" e "vacilante" do ministro Carlos Lupi.

- Lupi vai ser admoestado por causa da postura do PDT. Quando passar a votação no Senado, ele será chamado ao Planalto - disse um assessor direto da presidente Dilma.

Ontem, vários pedetistas que aguardam uma indicação para cargos no segundo escalão foram para o fim da fila. Entre os nomes citados, estão o do ex-senador Osmar Dias (PDT-PR), cotado para assumir uma diretoria de banco estatal, o do ex-líder na Câmara, Dagoberto (PDT-MS), que foi indicado para uma diretoria da Itaipu Binacional, e o do ex-governador Ronaldo Lessa (PDT-AL), que deseja comandar uma estatal no Nordeste. Os três foram derrotados em eleições majoritárias de 2010.

Outro pleito do PDT que foi para a geladeira foi a indicação do presidente em exercício da legenda e secretário-geral, Manoel Dias, de Santa Catarina, para ocupar uma diretoria da Eletrosul. Mas a pior situação é do atual secretário de Políticas Públicas do Ministério do Trabalho e Emprego, Ezequiel Nascimento, braço direito de Lupi. O Planalto identificou que Ezequiel fez campanha no Salão Verde da Câmara ao lado do deputado Paulinho da Força Sindical (PDT-SP) por um mínimo de R$560.

- O governo deveria tomar champanhe pela vitória esmagadora. Mas estamos felizes por tentar ajudar os menos favorecidos. Aliás, Dilma já foi do PDT e sabe o peso que a bandeira do mínimo tem para o partido - avisou Queiroz.