Título: Ex-chefe de Polícia é indiciado
Autor: Werneck, Antônio ; Brunet, Daniel
Fonte: O Globo, 18/02/2011, Rio, p. 14

FAXINA NA POLÍCIA

Allan Turnowski é acusado pela PF de vazar informações para policial investigado

Depois de pouco mais de três horas de depoimento na Polícia Federal, o delegado Allan Turnowski, ex-chefe de Polícia Civil, foi indiciado ontem - como O GLOBO havia antecipado - por vazamento de informação pelo delegado Allan Dias, coordenador da Operação Guilhotina, que levou à prisão 38 pessoas, sendo 30 policiais suspeitos de envolvimento em crimes. Turnowski foi enquadrado no parágrafo 2º do artigo 325 do Código Penal, que prevê de dois a seis anos de prisão, mais multa. Na saída, o ex-chefe de Polícia - que estava sozinho e sem advogado - negou a acusação e garantiu que é inocente:

- Eu provei a minha inocência. Fui acusado por todo mundo de ter recebido R$500 mil mensais, sem que houvesse uma única prova nos autos. Fui acusado ter recebido dinheiro da pirataria, mesmo tendo fechado o camelódromo, numa ação inédita. Fui acusado de vazar informação de uma operação, da qual, segundo o doutor Allan (Dias), eu teria sabido pelo secretário de Segurança (José Mariano Beltrame). Então hoje, no fim dessas investigações, nada ficou provado - garantiu.

Turnowski teria dito que ia "cair atirando"

O depoimento estava marcado para as 16h, mas Turnowski chegou muito antes, por volta das 13h, depois de ligar para a PF pedindo para se apresentar. Antes de chegar à PF, por telefone ele disse a um delegado federal que se sentia traído e que ia "cair atirando".

- Prestei declarações como indiciado por vazamento de informação. Só que o secretário de Segurança Pública não foi ouvido. Fui indiciado antes que alguém da secretaria dissesse se falou para mim sobre a operação. Eu liguei para ele (Beltrame) durante a audiência: "Secretário, o senhor falou comigo sobre a operação?" Ele respondeu: "Claro que não".

Em nota, Beltrame informou que, ao ser informado pela PF sobre policiais civis que estavam achacando um traficante durante a ocupação do Complexo do Alemão, ligou para o então chefe de Polícia Civil. Beltrame diz que cobrou providências de Turnowski, mas em nenhum momento mencionou a Operação Guilhotina.

Segundo Turnowski, seu indiciamento não passará no primeiro crivo de qualquer juiz:

- A única conversa gravada em que eu falo sobre a 22ª DP (Penha) é a respeito de um preso que o secretário mandou que eu checasse. Eu falei com ele (o inspetor Christiano Gaspar Fernandes) e realmente existia o preso. Depois, há o diálogo em que eu digo que a nossa corregedoria estava de olho nele, que ele ficasse muito atento, que procedesse dentro da lei.

Turnowski disse ainda que, para provar sua inocência, depende do depoimento de Beltrame:

- O secretário vai ter que depor para provar que eu não sabia. Por que então o delegado da Polícia Federal não esperou o Beltrame depor antes de me indiciar? O delegado me disse assim: "Vou indiciá-lo hoje (ontem) e depois eu revogo o seu indiciamento, se o secretário disser que não o informou sobre a operação".

Suspeito de vazamento de informações para policiais presos na Operação Guilhotina e acusado, por uma testemunha, de receber propina, Turnowski foi intimado duas vezes, em ofícios encaminhados ao secretário Beltrame, a prestar o depoimento de ontem. No início da semana, ele foi afastado do comando da Polícia Civil após tensa negociação. Turnowski foi indiciado por supostamente ter sido flagrado em grampos telefônicos da PF alertando o inspetor Christiano Gaspar Fernandes sobre a investigação da PF.

A conversa interceptada pelos federais teria acontecido ano passado, depois de a PF chegar a um informante que trabalhava na Delegacia de Combate às Drogas (Dcod). Turnowski teria dito a seu subordinado para ficar atento, porque a PF preparava uma operação. Um dos alvos do inquérito, Christiano acabou preso.

O Ministério Público estadual tem até a próxima quinta-feira para denunciar as 45 pessoas indiciadas pela PF. O inquérito chegou ontem à 1ªCentral de Inquéritos. Entre os 45 indiciados, há 32 policiais militares e civis, inclusive o ex-subchefe operacional da Polícia Civil delegado Carlos Oliveira, que foi braço direito de Turnowski.