Título: Caixa e BTG injetam até R$2 bi no PanAmericano
Autor: Duarte, Patrícia ; D"Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 18/02/2011, Economia, p. 29

Recursos serão usados para compra de carteiras de crédito. Objetivo é recompor liquidez e patrimônio do banco

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Para recompor o patrimônio e a liquidez do banco PanAmericano, seus controladores BTG Pactual e Caixa Econômica Federal vão injetar imediatamente entre R$1 bilhão e R$2 bilhões na instituição que pertencia ao apresentador Sílvio Santos e quase quebrou devido a fraudes contábeis. Os recursos - parte do "cheque especial" que os acionistas colocaram à disposição do banco no mês passado - serão destinados à compra de carteiras de crédito do PanAmericano.

Além disso, o empréstimo de R$1,3 bilhão feito pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC, fundo formado com recursos dos bancos privados) ao PanAmericano em janeiro também servirá para reconstituir o patrimônio do banco. O indicador, em dezembro, estava em apenas R$197 milhões.

Com isso, avaliam fontes próximas ao assunto, o PanAmericano conseguirá se reenquadrar nas normas de exigência de capital do Banco Central (BC) e ter seu índice de Basileia acima de 11%. Ou seja, para cada R$100 emprestados, terá R$11 de capital próprio, como exige a lei brasileira.

As fraudes no PanAmericano foram descobertas em meados de 2010 pelo BC e, naquele momento, somavam cerca de R$2,5 bilhões. Para solucionar o problema, Silvio Santos, até então controlador, ofereceu todo o seu patrimônio empresarial como garantia para que o FGC emprestasse os recursos necessários para cobrir o rombo.

No início deste ano, no entanto, novas fraudes de R$1,3 bilhão foram descobertas e, assim, o BTG Pactual acabou assumindo a parte do apresentador numa manobra contábil. Comprometeu-se a pagar R$450 milhões ao FGC, em algum momento em aproximadamente 20 anos.

Diante disso, a Caixa, que comprou cerca de 35% do PanAmericano no ano passado, e o BTG assumiram o compromisso de deixar à disposição do banco um "cheque especial" para injetar liquidez sempre que necessário, por meio da compra de suas carteiras de crédito e de Certificados de Depósitos Interbancários (CDI).

Instituição explica hoje mudanças em balanço

No caso da estatal, o limite de crédito colocado foi de R$8 bilhões a R$10 bilhões e, no do BTG, de mais R$4 bilhões. E é justamente uma parte desses recursos que vai ser usada agora.

Apesar de a situação patrimonial do PanAmericano estar aparentemente equacionada, continuam as investigações no BC sobre a sequência de rombos descobertos. A avaliação sobre os primeiros R$2,5 bilhões já foi concluída e repassada à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal, para a apuração de responsabilidade civil.

Mas a autoridade monetária continua estudando o segundo rombo, de R$1,3 bilhão. Neste caso, com ênfase também nos processos de tecnologia, um dos mecanismos usados pelos fraudadores para inflar os resultados do banco.

Ontem, um dia depois de surpreender o mercado e divulgar um balanço restrito às atividades do banco em dezembro, como se a instituição não existisse antes disso, a diretoria do PanAmericano apresentou uma nova versão dos resultados. A reapresentação deveu-se, segundo o banco, à necessidade de alguns ajustes nos números, que serão explicados hoje, em teleconferência com analistas.

Especialistas procurados pelo GLOBO preferiram não comentar as mudanças, preferindo esperar a teleconferência. Da forma como foi apresentada, queixam-se os analistas, é impossível saber, por exemplo, como os R$3,8 bilhões liberados pelo FGC foram alocados para reequilibrar a contabilidade do banco.