Título: Devastação ao som da motosserra
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 20/02/2011, O Pais, p. 14

PARAGOMINAS (PA). No interior do Pará, a felicidade transborda quando a safra da devastação supera todas as expectativas. Um vídeo apreendido pelo Ibama mostra o arroubo de alegria que tomou conta do caboclo que ganhou não mais de R$25 para arrancar da terra toras imensas de maçaranduba e angelim, em assentamento irregular entre Baião e Tucuruí, ao sul de Belém. Em três minutos de gravação, ao som dos motores do trator e da serra elétrica, o assentado se exibe para o patrão.

¿ Moleca! É maçaranduba criada! Leva pro magrão (patrão) pra ele saber que homem é homem. Vamos lá embaixo mostrar para ele como tem mais por ela... É maçaranduba! Vamos lá ver o abençoado do tratorzinho... ¿ diz.

No vídeo, gravado em 2010 pelo telefone celular e apreendido pelo Ibama, o assentado apresenta um cenário desolador, com toras espalhadas pelo chão, e trator e motosserra em plena operação, numa área de proteção permanente. Ele foi autuado em flagrante por extração ilegal de madeira.

As imagens mostram o assentado radiante com o trabalho que rendeu 28m de maçaranduba. Com simplicidade, ele anuncia a próxima derrubada:

¿ Vamos derrubar aquele angelim ainda hoje, não é ?

Mesmo depois que ele foi autuado, a floresta não teve sossego. Um mês depois, o mesmo colono foi flagrado em outra ação.

¿ Normalmente, o metro cúbico que é extraído legalmente custaria até R$300 e fica por R$80, com frete. Como o peão ganha no máximo R$25 por dia, quem atua na legalidade não consegue competir ¿ explica o coordenador de operações do Ibama no Pará, Paulo Maues.