Título: Os forasteiros à frente da secretaria
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 20/02/2011, Rio, p. 17

O delegado José Mariano Beltrame, mantido pelo governador Sérgio Cabral para continuar à frente da Secretaria de Segurança é o terceiro de uma dinastia de policiais federais que comanda as polícias estaduais há sete anos. O precursor foi o ex-deputado federal Marcelo Itagiba, nomeado pela então governadora Rosinha Garotinho em 2004. Uma situação que sempre provocou ciúmes nos quadros das polícias civil e militar do estado, subordinados ao secretário.

Na secretaria, Beltrame está cercado de assessores e subsecretários oriundos da Polícia Federal. O último a assumir um posto de comando foi o delegado federal Fábio Galvão, que agora é o diretor do subsecretaria de Inteligência e da boa safra da PF carioca. Ele entrou no lugar de outro delegado, esse da Polícia Civil, afastado no início do ano. Galvão, até receber o convite, foi o chefe da Delegacia Regional da PF em Angra dos Reis, mas teve passagem marcante pela Missão Suporte ¿ uma central de inteligência que foi substituída por uma estrutura maior, batizada de Centro de Inteligência Policial Compartilhada sobre Crime Organizado (Cicor), inaugurado em dezembro de 2008.

¿ Há muitos anos é difícil encontrar um quadro na polícia fluminense, seja ela civil ou militar, para assumir e unir as políciais. Então, quando assume, o governador tende a procurar fora o seu secretário ¿ disse um experiente estudioso no assunto, com tese de doutora em segurança pública, mas que preferiu não ser identificado.

Beltrame administra queda de braço entre a polícias

José Mariano Beltrame tem sido muito bem sucedido: não só controla a queda de braço da polícia fluminense (PM e Civil vivem às turras), como mantém uma política de segurança de longo prazo, sem milagres, cuja ponta são as unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que têm retomado territórios antes sob domínio do poder paralelo do tráfico.

Marcelo Itagiba, assim como Beltrame (que trabalhou no setor de Inteligência da PF do Rio) trocou a Superintendência Regional da PF pelo Executivo em abril de 2003, quando o ex-governador Anthony Garotinho assumiu a secretaria e, sem experiência na polícia, nomeou-o para o cargo de subsecretário-geral. Em 2004, Garotinho deixou o posto para se dedicar às eleições municipais, e o delegado foi efetivado. Ele estava no comando da polícia em março de 2005, quando uma chacina promovida por PMs deixou 29 mortos em Queimados e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Como no embate entre Beltrame e Turnowski, Itagiba travou uma disputa velada com o então chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins. Chegou a revelar que, numa das crises com Lins ¿ preso mas tarde pela PF ¿, pediu a demissão do ex-subordinado a Rosinha por suspeitar de seu envolvimento num caso de corrupção na Polinter.

Quando Itagiba saiu do governo, assumiu o também delegado federal Roberto Precioso, que fora, como Itagiba, superintendente da PF do Rio. Precioso também comandou a PF no Espírito Santo e foi presidente da Interpol no Brasil. Sua passagem pelo governo teve a marca da discrição. O secretário evitou entrevistas, mas, quando falou, provocou polêmica. Além disso, delegou a maior parte das atividades públicas ao chefe de Polícia, Ricardo Hallack, outro preso pela Polícia Federal.

Precioso deixou o governo em 2006, semanas depois de a PF prender 79 policiais militares acusados de envolvimento com o tráfico e com a máfia dos caça-níqueis na Operação Tingui. Na época, Beltrame já integrava a Missão Suporte. Na ação federal, praticamente metade do 14º BPM (Bangu) saiu do quartel diretamente para o xadrez.

Com exceção de Garotinho e do coronel PM Josias Quintal, há vários anos a Secretaria de Segurança tem sido ocupada por gente de fora dos seus quadros. Antes de a PF passar a fornecer seus homens, foi o Exército: foram três generais no posto máximo da segurança do estado. O mais famoso deles, Nilton Cerqueira, assumiu levando na bagagem sua participação na morte do ex-capitão Carlos Lamarca, que abandonou o Exército para unir-se à luta armada contra o regime militar.