Título: G-20 chega a acordo e cria parâmetros para medir desequilíbrios globais
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 20/02/2011, Economia, p. 30

PARIS. Ministros das Finanças e presidentes dos bancos centrais do G-20 ¿ grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo ¿ chegaram ontem a um acordo sobre uma série de indicadores que vão medir os desequilíbrios e guiar a política dos países do bloco. A grande novidade é o fato de a China ¿ a segunda maior economia mundial ¿ ter cedido num dos pontos mais controversos: aceitou incluir a taxa de câmbio como um dos indicadores de desequilíbrio, o que foi comemorado pelo Brasil.

Inicialmente, o país se manteve discreto na questão do câmbio, para não desagradar a Pequim, seu forte aliado no bloco dos países emergentes, os Brics, grupo que reúne os emergentes China, Brasil, Rússia, Índia e África do Sul. Os chineses vêm sendo pressionados a flexibilizar sua moeda, o yuan, artificialmente desvalorizada, para estimular suas exportações.

Entre os indicadores aprovados ontem estão os que apontam desequilíbrios internos de um país (dívida e déficit públicos, poupança privada) e para desequilíbrios externos, como saldo em transações correntes (que inclui balança comercial, viagens, pagamento de juros e remessas de lucros e dividendos).

¿ Os principais indicadores para nós foram taxa de câmbio e contas externas. O Brasil não cedeu em nada. Tudo o que esta aí interessa ao Brasil. Estamos plenamente satisfeitos com o acordo ¿ garantiu ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Peso da taxa de câmbio ainda está indefinido

Outra novidade do acordo, que agradou especialmente ao Brasil e à China, foi a desistência de se incluir como indicador de desequilíbrio o excesso de reservas em alguns países. A China, que detém as maiores reservas do mundo ¿ quase 2 trilhões, o equivalente a 31% das reservas mundiais ¿ não quer saber de limites. E Mantega já havia avisado que o Brasil também não cederia neste ponto.

Todos concordaram que o principal desequilíbrio hoje na economia mundial, como descreveu a ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, é o fato de a China vender e poupar muito, e a Europa e os Estados Unidos gastarem muito. Os indicadores, segundo ela, são o primeiro passo do G-20 para corrigir isso.

¿ Temos um acordo! Não foi simples. As negociações foram francas, às vezes tensas, mas frutíferas ¿ comemorou Lagarde, que presidiu o encontro.

A linguagem do acordo, entretanto, não é clara. O texto diz, por exemplo, que, para medir os desequilíbrios externos, o indicador principal serão as transações correntes, ¿levando em consideração o câmbio e as políticas fiscal e monetária¿. Ou seja, uma linguagem diplomática para acomodar as resistências da China, mas que deixam em aberto o peso que o câmbio terá na medição.

Assim, a próxima missão do G-20 passa a ser definir as chamadas ¿orientações indicativas¿ para acompanhar cada um dos critérios. Lagarde disse que o objetivo é chegar a um consenso sobre isso na próxima reunião dos ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do grupo, prevista para abril, em Washington.

Debate sobre controle de `commodities¿ é adiado

Os Brics eram contra o uso das transações correntes como indicador. Tiveram que ceder neste ponto, mas obtiveram como contrapartida a exclusão das reservas. Outro ponto que agradou ao Brasil e os outros países dos Brics: os indicadores não vão resultar em nada compulsório.

¿ São indicadores, não são metas ¿ disse Lagarde.

Outra vitória do Brasil foi adiar o debate sobre regulação do mercado das commodities ¿ um ponto que a presidência francesa do G-20 vem insistindo. Este foi o motivo, segundo Mantega, de uma longa discussão na reunião. O Brasil não conseguiu, entretanto, tirar o assunto da pauta: o documento final do G-20 diz que organizações internacionais vão analisar os mercados de commodities agrícolas e de energia (petróleo, gás e carvão) e poderão propor soluções.

¿ Há grande convergência entre países desenvolvidos e emergentes na questão da volatilidade dos derivativos, mas devemos ir mais longe na questão da transparência e identificação dos estoques ¿ disse Lagarde.

O G-20 também manteve outra reivindicação dos países emergentes: liberdade para adotar medidas de controle de capitais. Mas, em contrapartida, decidiu que será negociado um ¿código de conduta¿ nesta questão. No fim do comunicado, o G-20 indica os avanços para fortalecer o sistema monetário internacional e diz que o grupo seguirá com a reforma do sistema financeiro.