Título: A primeira vitória no Bahrein
Autor:
Fonte: O Globo, 20/02/2011, O Mundo, p. 37

MANAMA

No que foi considerada uma primeira vitória da oposição xiita do Bahrein, milhares de manifestantes retomaram ontem o controle da Praça da Pérola, no centro de Manama, após o príncipe herdeiro Salman Bin Hamad al-Khalifa ordenar a retirada de tanques e forças de segurança das ruas da capital. A reviravolta ocorre após uma semana de protestos em que policiais e soldados do Exército usaram força e violência para reprimir manifestantes do menor país do Golfo Pérsico. A retirada das tropas foi uma das exigências dos xiitas como pré-condição para o início dos diálogos com o rei Hamad Isa al-Khalifa. Mesmo assim, cerca de 4 mil pessoas comemoraram, realizando uma mobilização pacífica no coração da cidade.

Animados, manifestantes carregavam bandeiras do Bahrein e flores, gritando palavras, como ¿pacífico, pacífico¿ e ¿nós somos vitoriosos¿. Os opositores, que exigem a queda da monarquia sunita da família al-Khaifa e a criação de uma monarquia constitucional, beijavam o chão e tiravam fotos dos cerca de 60 veículos da polícia que deixavam o local.

¿ Todo o Bahrein está feliz hoje ¿ disse Jasim al-Haiki, de 24 anos, que animava várias pessoas na Praça da Pérola. ¿ Esses são os bareinitas. Eles fazem o que dizem que vão fazer!

Na sexta-feira o presidente Barack Obama conversou com o rei bareinita e pediu que as autoridades locais prendessem os responsáveis pela violência. Ontem, o governo de Manama afirmou que abriu o diálogo com a oposição. Durante a semana, manifestantes xiitas rejeitaram um pedido da monarquia para negociar, afirmando que só iniciariam um diálogo após a retirada de militares das ruas. A decisão de ontem é vista como a primeira concessão por parte da monarquia sunita em direção a um acordo. Segundo a emissora britânica BBC, Salman teria realizado um encontro ontem com alguns grupos de oposição, incluindo movimentos ligados à maioria xiita, que representa 80% da população.

¿Um processo do Bahrein para um diálogo começou entre o príncipe e grupos políticos¿, informou o governo, em mensagem no Twitter.

Confronto entre manifestantes no Iêmen

Líder do al-Wefaq, maior grupo xiita da oposição, Abdul-Jalil Khalil elogiou a decisão do governo e disse que o príncipe ¿fez a coisa certa¿ ao retirar as tropas das ruas e permitir os protestos na Praça ¿da Pérola.

¿ O príncipe abriu as portas para o diálogo porque vai impedir que ocorram mais mortes e que as pessoas exijam seus direitos ¿ afirmou.

O recolhimento das tropas em Manama foi feito repentinamente na parte da manhã, sem um aviso prévio das autoridades. Impressionados, os manifestantes assistiram à saída dos tanques e de agentes de segurança. Num comunicado, mais tarde, o príncipe afirmou que o objetivo do governo era garantir a segurança dos bareinitas.

¿Repito, mais uma vez, que nosso dever é preservar a segurança e estabilidade, para garantir que não haja discórdia e que a situação não piore. Junte-se a nós para acalmar a situação, para que possamos anunciar um dia de luto pela perda de nossos filhos¿, disse ele, em nota.

O Bahrein, um importante aliado dos Estados Unidos, é um dos vários países árabes e muçulmanos a enfrentar protestos pró-democracia desde a queda dos ex-ditadores de Tunísia e Egito. No Iêmen, por exemplo, as manifestações vêm se intensificando nas últimas semanas. Ontem, um violento confronto entre opositores e partidários do regime de Ali Abdallah Saleh, há 32 anos no poder, deixou ao menos oito feridos. As primeiras notícias davam conta de que um estudante teria morrido, mas o Ministério do Interior iemenita negou a informação, afirmando que o jovem estava internado na UTI de um hospital.

O confronto na capital começou quando simpatizantes de Saleh tentaram forçar a entrada no campus da Universidade de Sanaa, usado pelos opositores como ponto de concentração antes das marchas. No entanto, foram violentamente reprimidos pelos estudantes, que atiravam pedras contra os inimigos. Os partidários do presidente, por sua vez, responderam com tiros.

Já na Argélia, onde a oposição pede a renúncia do presidente Abdelaziz Bouteflika, cerca de 40 mil policiais foram colocados nas ruas para impedir manifestações nos arredores da praça Primeiro de Maio, no centro da capital, Argel. Na Tunísia, por sua vez, ao menos 15 mil pessoas contrárias aos movimentos islâmicos tomaram a principal avenida da capital, Túnis, pedindo tolerância política. O protesto ocorreu um dia após o governo ter dito que um padre teve a garganta cortada por um grupo que classificou de terrorista.