Título: Ministro do Trabalho afirma que não é inteligente governo retaliar PDT
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 19/02/2011, O País, p. 4

O TESTE DO MÍNIMO

"Meu cargo é de confiança da presidente. Quem tem de responder é ela", diz Lupi

SÃO PAULO. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), afirmou que não considera "inteligente" que o governo faça uma retaliação contra os aliados - a maioria de seu partido - que não votaram a favor do projeto de lei que estabelece o salário mínimo de 2011 em R$545. Segundo ele, cada deputado deve votar de acordo com a sua consciência, e o Executivo deve ter "grandeza" para saber ganhar ou perder. Lupi, que estaria também na corda bamba devido à sua falta de empenho, disse que está "tranquilo" sobre sua situação e que parabenizou a presidente Dilma Rousseff anteontem pela vitória na Câmara.

"Democracia implica no respeito ao direito de todos"

Em entrevista coletiva após um almoço na Fiesp, Lupi tentou demonstrar desapego ao cargo e atribuiu a perspectiva de que sua permanência na pasta estaria ameaçada a fofocas. Afirmou que está com a "consciência tranquila" porque está do lado da "causa do povo brasileiro".

- Meu cargo é de confiança da presidente da República. Quem tem que responder é ela. Eu estou tranquilo, com a consciência tranquila, ao lado da causa boa que é a causa do povo brasileiro - disse.

Mas, em tom de ameaça velada, Lupi disse que não seria prudente retaliar o PDT, que faz parte da base aliada de Dilma no Congresso:

- A democracia implica no respeito ao direito de todos, inclusive o das minorias, como diz a Constituição Federal. Eu não acho que seja inteligente fazer retaliação com ninguém porque o governo ganhou, foi vitorioso. Temos que ter a grandeza para saber vencer. Se não tivermos, depois não teremos a grandeza para saber perder.

Ele afirmou que Dilma, que já foi do PDT, é "grandiosa" e "vitoriosa", e saberá agir bem.

Na Esplanada, a avaliação é que o ministro, cota do PDT, não se uniu aos esforços de convencimento de outros ministros no Congresso. Na última reunião com as centrais sindicais, Lupi se retirou antes da coletiva à imprensa, deixando os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Gilberto Carvalho (Relações Institucionais) sozinhos para explicar o encerramento unilateral das negociações. Dos 27 deputados pedetistas, nove votaram a favor da emenda do DEM que aumentava o mínimo para R$560 e um se absteve - foi o partido aliado que mais "traiu".

E foi um amigo e correligionário, o deputado Paulo Pereira (SP), que tentou liderar a rebelião, inclusive esboçando derrotada estratégia de aliança com o PSDB e o DEM na votação.

- Tomei café da manhã com o Paulinho (presidente da Força Sindical). Ele é meu amigo. Ele vai se conformar. Na vida a gente perde e ganha - disse Lupi.

Sobre a conversa com Dilma, anteontem, o ministro disse ter tratado de "assuntos de trabalho", sem análise da votação partidária do mínimo:

- Disse a ela que estava muito feliz pela vitória que ela teve no Congresso.

Lupi atribuiu ainda seu estremecimento às fofocas e citou "um deputado" que disse que ele deveria "voltar a vender jornal", em referência à sua antiga profissão de jornaleiro.

- Cada um fala o que quer, a democracia é assim. Eu estou sempre feliz, na banca de jornal, no Ministério do Trabalho, e aqui conversando com vocês - brincou Lupi.

Além de represálias a parlamentares, o PDT também corre risco de perder nomeações no segundo escalão.