Título: Banda podre cobrava 30% de apreensoes em favelas
Autor: Brunet, Daniel; Ramalho, Sérgio
Fonte: O Globo, 19/02/2011, Rio, p. 23

Agentes usavam informantes para achar armas e drogas escondidos; Justiça aceita denúncia contra 44 acusados

Durante a ocupação do Complexo do Alemão, no ano passado, agentes ligados ao ex-subchefe Operacional da Polícia Civil, delegado Carlos Oliveira, ofereceram um serviço inusitado. Com ajuda de informantes, eles indicariam onde estavam os esconderijos do tráfico em troca de 30% de tudo que fosse encontrado. As conversas, grampeadas, embasaram uma das quatro denúncias, apresentadas ontem pelo Ministério Público e aceitas pela 32ª Vara Criminal do Rio, contra 44 acusados ¿ sendo 32 policiais civis e militares ¿, alvos, na semana passada, da Operação Guilhotina, da Polícia Federal.

Ontem, os promotores receberam o inquérito que investiga o ex-chefe de polícia Allan Turnowski por suposto vazamento de informação.

Milícia controlaria até o estacionamento do Piscinão

Em uma denúncia, Oliveira, ex-braço direito de Turnowski, e mais 20 pessoas são acusadas de vender armas a traficantes e de controlar a milícia da Favela Roquete Pinto, em Ramos. O grupo controlaria até mesmo o estacionamento no Piscinão de Ramos.

Oliveira foi denunciado por formação de quadrilha, peculato e comércio ilegal de armas de fogo. Se condenado, pode pegar até 23 anos de prisão. Também foram denunciados o PM aposentado Ricardo Afonso Fernandes, o Afonsinho; e seus filhos, os inspetores Christiano e Giovanni Gaspar Fernandes, apontados como chefes da milícia.

Na segunda denúncia, 13 pessoas (só um não é policial) foram acusadas de fazer segurança de casas de jogos de azar.

Uma terceira denúncia afirma que seis pessoas ¿ cinco policiais, entre eles o inspetor Leonardo da Silva Torres, o Trovão ¿ vendiam armas apreendidas de traficantes para bandidos de outra facção, além de passar aos criminosos dados de operações policiais.

A última denúncia acusa quatro PMs de cobrarem propina mensal de R$80 mil de traficantes e de terem se apropriado de bens de criminosos e ate de sete pares de tênis, durante a ocupação do Alemão.