Título: Empresas ligadas a Furnas decidem demitir aliado de Eduardo Cunha
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 23/02/2011, O País, p. 4

Aluízio Meyer não é mais diretor-técnico de obras do PAC no setor elétrico

Uma semana após a posse do novo presidente de Furnas Centrais Elétricas, Flávio Decat, na qual ele prometeu uma gestão marcada pela ética e pela transparência, a estatal anunciou ontem o afastamento do engenheiro Aluízio Meyer de Gouvêa Costa, apadrinhado político do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dos cargos de diretor-técnico das empresas Transenergia Renovável, Transenergia São Paulo e Transenergia Goiás. Responsáveis pela construção de subestações e linhas de transmissão previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), as três são sociedades de propósito específico (SPEs) com 49% de capital de Furnas. A substituição de Meyer, um ex-presidente da Cedae condenado pela Justiça Fluminense por improbidade administrativa, foi decidida na manhã de ontem, por unanimidade, em reuniões dos conselhos administrativos das três sociedades -- além de Furnas, também são sócias as empreiteiras Delta e J.Malucelli. O anúncio, que não detalha as razões da decisão, ocorreu um dia depois que reportagem de O GLOBO associou Meyer à influência de Eduardo Cunha nos negócios de Furnas.

Promessa de escolha técnica O novo diretor-técnico das SPEs, responsáveis pela construção de linhas de transmissão de subestações em Goiás e São Paulo, será uma escolha pessoal de Decat. A promessa de Decat é escolher o sucessor de Meyer com base em critérios técnicos. Um dos nomes cotados é o do engenheiro aposentado Célio Calixto, que acumula experiência na área operacional de Furnas. Após passar por várias gerências, inclusive em Angola, Calixto deixou a empresa na condição de superintendente regional. Uma das preocupações dos acionistas, com a substituição de Meyer, foi afastar o risco de não obter os financiamentos pedidos ao BNDES. As três sociedades, juntas, pleiteiam empréstimos de quase R$ 200 milhões para tocar as obras. O banco ainda não decidiu porque exige as licenças das obras, que ainda não saíram, travadas por problemas ambientais - uma das linhas, por exemplo, passa dentro de uma reserva dos índios Avacanoeiro (GO). Em 2008, o BNDES se negou a autorizar o financiamento de outra obra de Furnas: a construção da Usina Hidrelétrica de Serra do Facão. Isso porque uma das sócias da estatal na empresa montada para executar o projeto, a Serra da Carioca II, pertence a um grupo com sede em paraíso fiscal (a holding Gallway). Pelo menos dois gestores do grupo também eram ligados a Eduardo Cunha: o engenheiro Lutero de Castro Cardoso (ex-presidente da Cedae) e o doleiro Lúcio Bolonha Funaro.

Dossiê detonou mudanças A saída de Meyer é mais um capítulo na crise iniciada em janeiro, quando um grupo de engenheiros de Furnas divulgou um dossiê, intitulado "Furnas -- preocupação dos seus trabalhadores". O documento atribui à "gestão Eduardo Cunha" desvios administrativos, a troca injustificada de antigos gerentes e aponta "o desrespeito às leis, estatutos e regulamentos que regem o mundo corporativo". Entre os casos listados, o documento cita a usina de Serra do Facão (GO), na qual a participação temporária do sócio Serra da Carioca II teria causado prejuízos de R$ 100 milhões à estatal. A denúncia levou o Tribunal de Contas da União e a Controladoria Geral da União a iniciar, semana passada, auditorias extraordinárias nos contratos. Aluízio Meyer, ao ser procurado pelo GLOBO, negou ter chegado aos cargos por indicação de Eduardo Cunha. Embora admita conhecer o deputado, para quem doou dinheiro na campanha eleitoral de 2002, disse que se afastou do parlamentar desde 2005, quando pediu demissão da presidência da Cedae. Meyer lembrou que é engenheiro aposentado de Furnas, razão de sua indicação para o grupo Transenergia em 2009. Eduardo Cunha também negou ser o responsável pela indicação de Meyer e disse desconhecer as três empresas.